Leite de vaca é introduzido demasiado cedo na alimentação dos bebés - Estudo
Porto Canal / Agências
Porto, 01 jun (Lusa) - Cerca de 20% das famílias portuguesas da zona norte introduzem o leite de vaca demasiado cedo na alimentação das crianças, ou seja, antes dos 12 meses, revela o Estudo do Padrão de Alimentação e de Crescimento na Infância (EPACI).
A pediatra e coordenadora do estudo, Carla Rêgo, explicou que o leite de vaca (pasteurizado e UHT) tem uma composição nutricional inadequada para esta idade, com um baixo teor de ferro e um elevado teor proteico, e nunca deve ser utilizado, pelo menos, no primeiro ano de vida.
O EPACI é um trabalho de âmbito nacional, que envolveu cerca de duas mil crianças, apoiado pela Direção Geral de Saúde, pelas Administrações Regionais de Saúde, pela Faculdade de Medicina do Porto e pela Universidade Católica.
Segundo Carla Rêgo, este é o maior estudo do género alguma vez feito em Portugal e tem como objetivo retirar conclusões sobre a obesidade na infância e gerar linhas de orientação para a comunidade médica.
É representativo do país, mas nos dados hoje divulgados no Porto só estão reportados os obtidos na região norte. Em setembro serão divulgados os dados globais.
Segundo a coordenadora do EPACI, "este trabalho foi realizado porque se sabe que a alimentação e a forma como se cresce nos primeiros anos de vida são determinantes para a saúde futura".
"É sabido que quando existe um grande aumento de peso, por exemplo no primeiro ano de vida, ou quando se ultrapassa os 2/3 anos com excesso de peso muito marcado, a probabilidade de vir a ter tensão arterial elevada, de desenvolver obesidade ou doença cardiovascular é maior do que se isso não acontecer", explicou.
O estudo revelou que há erros que é preciso corrigir, mas revelou também "há muita coisa bem feita em Portugal", nomeadamente a idade da diversificação alimentar (introdução de outros alimentos) e o facto de essa diversificação se iniciar com a sopa.
"Quarenta e cinco por cento das nossas crianças iniciam pela sopa de vegetais. Outra coisa que se faz muito bem é o fracionamento das refeições, come-se cinco ou seis vezes ao dia. A introdução da carne também ocorre no período certo, ao sexto mês", sustentou.
Um outro aspeto que se destacou pela positiva é relativo ao consumo de fruta, "92,5% das nossas crianças consomem fruta diariamente, o que é espetacular", frisou a pediatra.
Pela negativa salientou a introdução dos vegetais no prato, que ocorre tardiamente, ao contrário do consumo de sumos, com ou sem gás, que é "extremamente elevado" e começa "demasiado cedo".
Menos bom é também o "tempo de aleitamento materno", que é de "apenas três meses e meio", provavelmente devido à obrigatoriedade do regresso das mães ao trabalho. A Organização Mundial de saúde e o comité de nutrição europeu recomendam o leite materno em exclusivo até o mais próximo possível do sexto mês.
Os dados foram recolhidos através de entrevista e de avaliação de cada criança entre os 12 e os 36 meses. Os dados que reportam ao primeiro ano de vida são dados recolhidos do boletim infantil.
"No fundo, este estudo tem uma componente retrospetiva relativa ao primeiro ano de vida e tem uma componente de avaliação transversal relativa aos 12/36 meses. Todas as crianças foram pesadas, o inquérito alimentar foi feito a todas dos 12 aos 36", explicou a médica.
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