Mário Carrascalão afirma que despartidarizar a luta foi o "momento chave"

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Porto Canal com Lusa

Díli, 20 nov (Lusa) - A decisão de Xanana Gusmão despartidarizar a luta pela independência de Timor-Leste, em 1983, foi o "momento chave" do processo de libertação, que acabou por se concretizar no referendo de 30 de agosto de 1999, disse Mário Carrascalão.

"Eu não sou nenhum fã do Xanana. Admiro o trabalho que ele fez, mas não sou um xananista. Ele sabe disto. Mas acho que se a alguém se deve a independência de Timor, se deve a Xanana Gusmão. Lá fora serão outros. Mas cá dentro é Xanana", afirmou em entrevista à Lusa.

"A coragem de Xanana ter saído da Fretilin, transformando-se apenas em comandante das Falintil, acho que é o momento chave", frisou, na entrevista em que analisou os últimos 40 anos de Timor.

As Falintil eram o braço armado da Frente de Libertação do Timor-Leste Independente (Fretilin).

Mário Carrascalão, terceiro governador nomeado pela Indonésia (de 18 de setembro de 1983 a 18 de setembro de 1992) para Timor, recorda que os encontros que manteve com o próprio Xanana Gusmão em Lariguto (1983) e Ariana (1990) só ocorreram porque este era líder da resistência.

"Encontrei-me com ele enquanto comandante das Falintil. Se se apresentasse como comandante da Fretilin eu não me sentaria à mesma mesa. Senti que ele, nessa altura, também me representa e outros como eu. Quando conversava com Xanana Gusmão estava a conversar com alguém que era representante do braço armado do povo timorense, do qual a UDT [União Democrática Timorense] já fazia parte", explica.

Mário Carrascalão recorda que no início da década de 1980 a Fretilin "estava praticamente derrotada na resistência interna" e que Xanana soube criar um movimento de unidade nacional, "para acabar com todas as divisões Fretilin-UDT.

"A Fretilin foi um alvo da chacina feita pela Indonésia. Praticamente todos os seus líderes foram liquidados. E em 1983 quando estavam praticamente todos liquidados, Xanana tomou a iniciativa de criar o movimento para a unidade nacional, onde chamou a UDT", disse.

"É um momento crucial porque Xanana Gusmão, que estava a combater como Fretilin, passou a ser apenas o comandante das Falintil que deixaram de ser o braço armado da Fretilin e passou a ser o braço armado da resistência.

"A maioria percebeu e o mais interessante é que esse movimento de unidade nacional congregou não só a UDT, levou a UDT a juntar-se à luta armada, mas captou simpatia de muitos da Apodeti [Associação Democrática Popular Timorense], inclusivamente fundadores da Apodeti, como João Martins e outros que passaram a simpatizar com a luta armada, contra a integração", frisou.

Só esse passo em 1983 e a capacidade de manter essa linha apesar de oposição interna e externa - por quem queria manter a direção político-partidária e ideológica - que permitiu, mais tarde, consolidar a ideia de que "não foi a Fretilin" sozinha a ganhar a luta.

"O referendo marca efetivamente a concretização de tudo quanto Xanana criou em 1983. É o povo unido. A 30 de agosto a população não teria simpatias se essa gente da UDT fosse contra ou estivesse lado. No dia 30 o resultado é consequência da ação do Xanana de 1983", insiste.

Hoje, e depois de algumas convulsões como as de 2002, 2006 e 2008, Mário Carrascalão, insiste que é preciso completar os problemas que estão por resolver, inclusive o das pessoas que, em 1999, foram levadas para Timor indonésio.

"Temos lá dezenas de milhares de pessoas. Que tem as suas propriedades legítimas em Timor, ocupadas por outros, Não estão garantidos esses direitos. Se calhar o seu regresso até é dificultado para não poderem recuperar (essas propriedades)", disse.

"Se há culpas que sejam julgadas em tribunal. Mas toda essa gente se movimenta e os timorenses não têm marcado na testa que uns são pró-integração e outros pró-independência", relembra.

Em termos políticos Mário Carrascalão aplaude alguns esforços de criar maior unidade nacional nos últimos anos, mas insiste que muitos dos problemas vividos desde a independência se devem ao "grande erro cometido pelas Nações Unidas que orientaram as coisas no sentido de ser apenas um partido a dominar isto, a Fretilin".

"Para as Nações Unidas praticamente só a Fretilin é que existia e por isso criou condições para a transformação automática da Assembleia Constituinte em parlamento e depois um Governo com uma maioria absoluta", disse.

"As consequências daquela ação das Nações Unidas de orientar tudo ainda hoje se sentem. O próprio governo atualmente está orientado num sentido de num futuro muito próximo ser dominado pelo partido único que é a Fretilin. Está orientado nesse sentido", considerou.

Um cenário, insiste, em que "o próprio Xanana é capaz de voltar a ser o líder da Fretilin".

"Eu não perfilho a ideia dos que pensam que isto vai ser um Estado falhado. Há sempre tempo para corrigir. Gostava que as correções fossem feitas sem muito sofrimento, sem muito sangue", disse.

ASP // EL

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