Responsável da polícia afegã última vítima de violência contra mulheres
Porto Canal / Agências
Cabul, 16 set (Lusa) - As autoridades afegãs confirmaram hoje a morte da responsável da polícia de Helmand, no sul do país, última vítima da violência contra as mulheres em cargos dirigentes na função pública do país.
Com 38 anos, esta mãe de duas crianças era a mulher com a mais alta patente da polícia de Helmand, província instável do sul do Afeganistão.
Homens armados, que se deslocavam numa motorizada, dispararam contra Nigar, numa rua próxima do quartel-general da polícia de Lashkar Gah, capital de Helmand.
Hospitalizada em estado crítico, "Nigar morreu esta manhã (segunda-feira) nas urgências, devido a um ferimento grave no pescoço", disse à agência noticiosa francesa AFP o porta-voz do Governo local, Omar Zawak.
O ataque não foi reivindicado.
Nigar trabalhava há sete anos em Helmand e tinha sido recentemente promovida ao cargo de investigadora.
Aos 'media' locais, garantiu não ter medo de desempenhar o seu trabalho, apesar das ameaças de morte, numa província muito conservadora e onde os direitos das mulheres pouco evoluíram desde a queda dos talibãs, em 2001.
O anúncio da morte de Nigar suscitou numerosas reações de indignação nas redes sociais na Internet.
"Os terroristas conseguiram calar uma outra responsável da polícia no Afeganistão", denunciou, no Twitter, Wazhma Frogh, uma militante dos direitos das mulheres no país.
O Governo de Kandahar, província vizinha de Helmand, apresentou "condolências à família de Nigar, uma polícia que morreu a defender o país".
No início do verão, a antecessora de Nigar - no título de mulher com a mais alta patente em Helmand - Islam Bibi, uma das oficiais da polícia mais famosa no Afeganistão, foi abatida por homens armados.
Pouco antes de ser assassinada, Bibi tinha afirmado receber regularmente ameaças de morte de várias pessoas, incluindo do irmão, que não aprovavam a escolha da carreira policial.
Nos últimos anos, várias mulheres em cargos de responsabilidade nas forças de segurança ou da administração local afegã foram mortas ou agredidas, nomeadamente nas províncias com forte presença de grupos rebeldes.
A 10 de agosto, a deputada Fariba Ahmadi Kakar foi raptada por rebeldes talibãs, num ponto de controlo em Ghazni, na principal estrada entre Cabul e Kandahar, grande cidade do sudoeste do país. Foi libertada, no início de setembro, durante uma operação de troca de presos.
No início de agosto, a senadora Rooh Gul foi ferida, mas a filha e o guarda costa morreram, num ataque em Ghazni.
A polícia afegã conta atualmente 2.200 mulheres num total de 157.000 agentes e oficiais, mas o Ministério do Interior comprometeu-se a aumentar os efetivos femininos até cinco mil, até à eleição presidencial de abril de 2014.
Desde que a NATO entregou a responsabilidade pela segurança no país, as forças de segurança afegãs, policiais e militares, são os primeiros alvos da violência talibã.
EJ // MLL
Lusa/Fim