Ciência "afeta a imagem que um povo faz da sua história" - Henrique Leitão, Prémio Pessoa

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Porto Canal / Agências
Lisboa, 27 mai (Lusa) - O investigador Henrique Leitão, que hoje recebeu o Prémio Pessoa 2014, alertou para a falta de especialistas em história das ciências, lembrando que o modo como se faz ciência "afeta a imagem que um povo faz da sua história".

Para Henrique Leitão, historiador da ciência antiga portuguesa, "a questão principal não é saber se a ciência realizada em Portugal foi melhor ou pior, se foi mais ou menos", mas, "muito mais simplesmente, em saber exatamente o que foi feito, como e por que tomou essa conformação específica".

"Seria lamentável que pela simples razão de não sermos capazes de analisar e interpretar um certo conjunto de documentos históricos, de estudo especialmente difícil, aceitássemos ou propuséssemos uma ideia muito equivocada sobre a nossa própria história", assinalou, em Lisboa, na cerimónia de entrega do galardão, presidida pelo Presidente da República, Cavaco Silva.

Para o docente, "a ciência, o modo como historicamente a ciência foi, ou não, praticada afeta, de maneira determinante, a ideia de construção de modernidade, a imagem que um povo faz de si próprio e da sua história", bem como "a imagem que projeta para fora".

"Por detrás de questões tão arcanas e rebuscadas como a resolução de equações do século XVI ou as complexidades da astronomia teórica do século XVII, acaba inevitavelmente por ser construída uma certa imagem histórica de um país", frisou Henrique Leitão, que direcionou os seus interesses de investigação para a história e a filosofia da ciência, em particular para a evolução das ciências exatas entre os séculos XV e XVII.

O investigador, doutorado em Física Teórica pela Universidade de Lisboa, apontou que "são muito poucas" as pessoas em Portugal, e também no mundo, "com as competências necessárias" para fazer a história das ciências, dada a "combinação peculiar de capacidades históricas, científicas, matemáticas, linguísticas, filosóficas" que, "nos atuais sistemas de ensino, correspondem a carreiras completamente separadas".

"O problema que ainda hoje se nos depara é um desafio sobretudo académico, um desafio de erudição (...). Responder a este desafio está inteiramente do nosso lado", sustentou, evocando a falta de estudiosos com competências técnicas, filológicas e conhecimentos históricos para se debruçarem sobre a ciência portuguesa e a sua relação com as tradições islâmica e hebraica.

O Prémio Pessoa, no valor de 60 mil euros, é uma iniciativa do semanário Expresso com o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos, sendo atribuído anualmente, desde 1987, num reconhecimento do papel de uma personalidade portuguesa na vida artística, literária ou científica do país.

Henrique Leitão, 50 anos, investigador-principal no Centro Interuniversitário da História das Ciências e Tecnologia e professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, foi o 28.º galardoado.

O júri do prémio, liderado por Francisco Pinto Balsemão, presidente do grupo Impresa, que detém o Expresso, considerou que, no seu percurso profissional, o cientista "combina a sólida formação científica com um conhecimento humanista, que o torna num verdadeiro cultor da interdisciplinaridade".

Enquanto comissário da exposição "360º Ciência Descoberta", realizada em 2013 na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Henrique Leitão "deu a conhecer ao grande público a importância crítica que a Península Ibérica teve para o desenvolvimento científico e o progresso civilizacional".

O premiado é membro da Academia das Ciências e da Academia Internacional de História das Ciências e faz parte do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, órgão consultivo do Governo, presidido pelo primeiro-ministro, Passos Coelho.

O investigador editou, para a Academia das Ciências, a obra completa do matemático quinhentista Pedro Nunes.

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