Passadiços no rio Paiva permitem acesso a zonas inacessíveis em escarpa rochosa
Porto Canal / Agências
Arouca, Aveiro, 15 fev (Lusa) - Arouca tem já construídos quatro quilómetros de passadiços na escarpa rochosa que acompanha o rio Paiva, o que, no verão, permitirá o usufruto de zonas antes praticamente inacessíveis ao homem, algumas das quais 150 metros acima da água.
A obra prevê um total de oito quilómetros entre a ponte de Espiunca e a praia do Areinho, abarcando assim a área conhecida como "a garganta do Paiva", e o percurso faz-se sob uma estrutura em madeira de pinho tratado, ancorada em ferro no maciço rochoso.
"Serão oito quilómetros sempre acima do nível máximo de cheia", descreveu à Lusa o presidente da Câmara Municipal de Arouca, José Artur Neves.
"Em algumas partes os passadiços estão tão próximos da água que dará para ver os peixes, mas noutras zonas as pessoas vão caminhar a 150 metros de altura em relação ao rio", acrescenta.
O autarca acredita que a paisagem será "espetacular" e, na sua maioria, inédita, dado que o passadiço vai circular "em muitos locais que nunca tiveram presença humana antes".
A rocha que delimita o circuito demonstra-o: se de um lado o passadiço se apresenta como uma varanda sobre o rio, com beiral em madeira, do outro a proteção é oferecida pela própria parede de rocha, revestida por vegetação intensa de várias tonalidades.
"Isto é natureza em estado praticamente intocado. Está cheia de espécies diferentes e vai proporcionar várias paisagens ao longo do ano, consoante as estações", realça José Artur Neves.
O passadiço sobre as águas do Rio Paiva também integra troços em degraus, algumas parcelas em terra firme, áreas de estadia e uma bancada para demonstrações de caiaque.
Essa estrutura é justificada pela procura que o rio já motiva no período entre novembro e maio, por parte de adeptos de desportos em águas bravas.
"O número total de praticantes ao longo desses meses e nos diversos troços do rio ronda os 10.000", revela fonte da autarquia.
Um recente estudo norte-americano indica, contudo, que a utilização desse curso de água ainda terá capacidade para crescer até "um limite máximo de cerca de 100.000 praticantes", pelo que a Câmara de Arouca, que cita o documento, quer salvaguardar os valores naturais existentes na área e sensibilizar os utilizadores para uma atitude de "celebração da paisagem e aproximação à natureza".
Ao longo do percurso está prevista, por isso, a colocação de painéis explicativos e informativos quanto a referências naturais como a cascata de Aguieira e os rápidos mais fortes do rio, como o chamado "Rápido Grande", de 100 metros de extensão em corrente acelerada, e o "Rápido das Marmitas", de 50 metros.
A mesma fonte da autarquia realça, aliás, que o trajeto intervencionado pelos passadiços representa "o troço de rio mais técnico em Portugal", não apenas pela turbulência das águas, mas também devido a "falésias de elevada inclinação e, por vezes, à inexistência de margens".
O orçamento definido para a obra é 1,8 milhões de euros, com uma comparticipação comunitária de 85%.
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