Salgado critica decisão do BdP classificar garantia soberana de Angola como produto tóxico
Porto Canal / Agências
Lisboa, 09 dez (Lusa) - O antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, considerou hoje uma "ofensa diplomática" a decisão do Banco de Portugal de, no momento da sua intervenção na instituição, ter colocado a garantia estatal angolana ao crédito ao BES Angola no banco mau.
"Há três bancos em Portugal que têm participações de bancos angolanos (BPI, BCP e BIC) e colocar a garantia do senhor presidente da República de Angola no banco mau, como produto tóxico, é no mínimo uma enorme ofensa diplomática", afirmou o responsável durante a sua audição na comissão de inquérito parlamentar ao caso BES.
E reforçou: "A forma da resolução, deixando as ações do banco angolano no banco mau considerou a garantia dada pelo Governo angolano como um produto tóxico".
Segundo Salgado, a sua gestão procurava "informar o Banco de Portugal [BdP] sempre na medida do possível. Mas foi a primeira instituição que recebeu a garantia" assinada pelo Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos.
"Fui pessoalmente entregar a garantia. O governador do BdP chegou ao ponto de não aceitar a garantia para efeitos de capital. Acho lamentável que isso tenha acontecido", acrescentou.
Salgado questionou o porquê de esta garantia estatal para a exposição de 3,3 mil milhões de euros que o BES tinha ao BES Angola não ter sido aceite pelo supervisor bancário a nível de capital, mas ter sido considerada válida publicamente pela entidade liderada por Carlos Costa.
"Nunca o BdP aceitou a garantia para os rácios do BES. Mas a 18 de julho considerou que a mesma era válida", afirmou.
Segundo Salgado, "essa garantia foi pedida pelos acionistas angolanos, apoiada pelos acionistas portugueses" e por si próprio.
"Fui a Angola agradecer ao Presidente da República a consideração que tiveram", revelou.
Apesar de ter resistido durante bastante tempo a relacionar diretamente a queda do BES a esta decisão do BdP, dizendo que os deputados devem estabelecer essas implicações com base na informação de que dispõem, Salgado acabou por admitir que esta questão foi determinante para o colapso do banco.
"O modelo de resolução cria o descalabro final, com a queda da garantia de Angola", disse o antigo presidente do BES.
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