Segunda carta: Sócrates diz que agora "prende-se para calar"

Segunda carta: Sócrates diz que agora "prende-se para calar"
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Porto Canal

O ex-primeiro-ministro José Sócrates criticou a “cobardia dos políticos”, a “cumplicidade de alguns jornalistas” e o “cinismo das faculdades e dos professores de direito” numa carta enviada e publicada hoje no Diário de Notícias.

“Digamo-lo sem rodeios: o ‘sistema’ vive da cobardia dos políticos, da cumplicidade de alguns jornalistas; do cinismo das faculdades e dos professores de Direito e do desprezo que as pessoas decentes têm por tudo isto. De resto, basta-lhes dizer: Deixem a justiça funcionar”, escreveu José Sócrates na carta enviada ao DN.

Na missiva, o antigo primeiro-ministro aborda também as questões da prisão preventiva, do segredo de justiça e da necessidade de se deixar funcionar as instituições.

Sobre a prisão preventiva, José Sócrates acentuou: “prende-se para melhor investigar, prende-se para humilhar, para vergar. Prende-se para extorquir, sabe-se lá que informação. Prende-se para limitar a defesa: sim, porque esta pode ‘perturbar o inquérito’”.

O antigo chefe do Governo alegou também que em Portugal prende-se principalmente para “despersonalizar”, salientando que a “pessoa deixa de ser cidadão face às instituições”, ou seja “passa a ser apenas um recluso”.

Na carta, José Sócrates apontou também o dedo a “alguns jornalistas”, que acusou de serem “pagos com elogios”.

“Nem precisam de falar – os jornalistas (alguns) fazem o trabalho para eles. Toma lá informação, paga-me com elogios. Dizem-lhes que é crime conhecerem, eles compensam-nos com encómios: magnífico juiz, prestigiado procurador; polícia dedicado e competente”, salientou.

Sobre o segredo de justiça, José Sócrates escreveu: “Sim, há o segredo de justiça, mas esse só a defesa está obrigada a cumpri-lo”.

A terminar, o ex-líder socialista questiona o controlo dos magistrados. “Quem nos guarda dos guardas? Silêncio. ‘As instituições estão a funcionar”, concluiu.

A carta de José Sócrates surgiu depois de o Supremo Tribunal de Justiça ter indeferido na quarta-feira um pedido de libertação imediata de José Sócrates, alegando "manifesta falta de fundamento legal".

A 21 de novembro último, o antigo líder do PS foi detido e, após interrogatório judicial, ficou em prisão preventiva, por o juiz considerar existir perigo de fuga e de perturbação da recolha e da conservação da prova.

Está indiciado dos crimes de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada num processo que envolve outros arguidos, incluindo o empresário e seu amigo de longa data Carlos Santos Silva, também em prisão preventiva.

O inquérito está alegadamente relacionado com ocultação de património e com diversas transações financeiras, mas a defesa alega que os investigadores ainda não avançaram com quaisquer indícios relativos ao crime de corrupção, designadamente se é corrupção passiva e se envolve ato lícito ou ilícito.

Sócrates está detido no Estabelecimento Prisional de Évora, onde já recebeu visitas de destacadas figuras do PS, incluindo do antigo Presidente da República Mário Soares.

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