Passos admite hipótese de recapitalização da Caixa e diz que problema do BES foi de "má gestão"
Porto Canal
O primeiro-ministro admitiu hoje que o Estado pode ter de recapitalizar a Caixa Geral de Depósitos caso haja prejuízo "muito elevado" na venda do Novo Banco, salientando que o problema do BES foi "de má gestão e não de supervisão".
Em entrevista à RTP, o primeiro-ministro considerou "muito pouco provável" que exista um custo direto para os contribuintes, mas admitiu que possa existir uma consequência indireta: "Pode vir a ter um custo -- não é para o contribuinte português -- é para a Caixa Gera de Depósitos. Por via indireta, esse custo significa uma de duas coisas: que a Caixa não dará resultados tão bons (...) ou que o Estado pode mesmo necessitar de fazer alguma recapitalização da Caixa se o custo for muito elevado".
Pedro Passos Coelho voltou a defender a solução encontrada pelo Banco de Portugal para o caso BES, através de uma resolução, e frisou que esta foi apoiada pelo Governo, através de "muitas trocas de impressão", dizendo que "o que aconteceu no BES não é resultado de má supervisão, é resultado de má gestão do banco".
"Espero que nenhuma comissão de inquérito inverta este problema", apelou.
O chefe de Governo salientou que foi uma gestão do BES "que pôs em risco aqueles que aí tinham depositado o seu dinheiro, que tinham comprado ações e se viram defraudados" por decisões de administradores do próprio banco.
Questionado se se pode falar de atos criminosos envolvendo a anterior administração do BES, Passos Coelho recusou-se a especular, dizendo que "se houver suspeita de práticas criminosas" competirá ao Ministério Público investigar.
Passos Coelho salientou que, apesar de ser sempre possível melhorar a supervisão, no caso do BES houve pessoas "que infringiram as regras, que geriram mal, eventualmente de forma danosa"
"O que se passou no BES não é da responsabilidade do governador do Banco de Portugal (BP) ou do Governo", disse, acrescentando que o BES foi alvo "de medidas muito corajosas por parte do BP, que impediu que o problema se viesse a colocar mais à frente, porventura de forma mais grave".
Questionado sobre se a decisão do Banco de Portugal de avançar para a resolução do BES foi tomada em conjunto com o Governo, o primeiro-ministro afirmou que "o Governo colaborou com o BP, mas não se substitui ao regulador".
"Houve muita troca de impressão evidentemente entre o governador do BP e o Governo. O Governo tem sido um apoiante muito determinado da ação do governador do Banco de Portugal, foi um homem muito corajoso", salientou.
Sobre o custo para os contribuintes da solução encontrada para o BES, o primeiro-ministro recordou que já admitiu que a resolução do banco poderá ter consequências indiretas para os contribuintes.
"Quem vai pagar é o fundo de resolução", afirmou, sublinhando que o Banco de Portugal já esclareceu que não deixará, caso haja algum prejuízo na venda do Novo Banco, que "esse custo será estruturado de forma a não pôr em causa o sistema financeiro".
Por essa razão, o primeiro-ministro admitiu que um eventual prejuízo entre o valor injetado pelo Fundo de Resolução da Banca (4,9 mil milhões de euros) no Novo Banco e a sua venda terá consequências no banco público, que poderão ser menores -- ausência ou diminuição dos lucros da Caixa -- ou maiores, o que poderia exigir do Estado uma recapitalização da Caixa.
Ainda assim, o chefe de Governo defendeu que a resolução do BES "foi a melhor solução".
"Se tivéssemos feito uma capitalização pública do BES o risco para os contribuintes teria sido gigantesco, nós -- o Banco de Portugal com o apoio do Governo -- encontrou a solução que é mais garantística", disse.