Alarme sobre situação de trabalhadores em Birmingham resultou, diz trabalhador português
Porto Canal / Agências
Birmingham, 24 jul (Lusa) - O alarme sobre as condições de trabalho numa obra em Birmingham, em Inglaterra, resultou num acordo e Fernando Dias, um dos portugueses responsáveis, aconselha outros na mesma situação a fazer o mesmo.
"O conselho que dou é que, quando surgem casos destes, é [preciso] intervir como nós fizémos: comuniquem à embaixada, mandem emails para as televisões para relatar o que se está a passar, porque assim as firmas também tomam conhecimento porque telefonam para saber o que se está a passar e eles não querem nada disso", disse hoje à agência Lusa.
A má publicidade é indesejável, justifica este carpinteiro de 42 anos. Por isso "eles chegam ao acordo que têm de chegar".
Neste caso, revelou, 29 trabalhadores aceitaram regressar a Portugal até ao final da semana com 2500 euros no bolso sem terem sequer iniciado o trabalho de reparação de dois túneis rodoviários na cidade, a segunda mais populosa do Reino Unido.
O contrato, como efeito a partir do passado dia 19 de julho, previa um total de 3500 euros por um período de quatro semanas, durante o qual teriam de trabalhar 12 horas por dia.
Exigências técnicas de última hora do município atrasaram o início dos trabalhos por uma semana, pelo que a empresa que recrutou este grupo de 100 trabalhadores portugueses propôs uma redução de 50% da remuneração enquanto estivessem parados.
O supervisor Rui Vidal tentou explicar a posição dos patrões, que terão investido bastante dinheiro no transporte dos armadores de ferro e carpinteiros de cofragem, alojamento em quartos individuais numa residência universitária e formação.
"Seria um acerto e uma boa vontade, tanto dos trabalhadores, como do patronato, de haver uma negociação fora do contrato para estarmos em sintonia", disse à Lusa.
Perante o desagrado da totalidade dos trabalhadores, negociou uma contraoferta de pagamento de oito horas, que foi melhorada para as 12 horas contratuais após pressão de um grupo "minoritário".
Fernando Dias rejeita a etiqueta de desestabilizador, argumentando: "Não é culpa nossa não estarmos a trabalhar, é culpa deles. Eu não vim aqui para ganhar seis horas por dia, vim para ganhar as 12 horas e trabalhar e ganhar os 3500 euros".
Rui Vidal lamenta a "falta de paciência" desta trintena de insatisfeitos, enquanto Steve Craigs, diretor da Bespoke Resources Group International, agência de recrutamento sedeada em Portugal, está muito preocupado com o "cliente chateado" e com o risco de perder futuras empreitadas.
É que, admitiu, se não conseguir repor rapidamente a mão-de-obra em falta por portugueses, terá de recorrer a operários britânicos, cujas condições de remuneração são mais elevadas.
"Chateia-me isto estar a acontecer porque eu sempre defendi a ética, empenho e capacidades dos trabalhadores portugueses. E se isto correr bem, há a oportunidade de voltarem para trabalharem noutros projetos em túneis", vincou.
Steve Craigs garante ter feito o possível para manter os trabalhadores satisfeitos, com avanços de dinheiro e a compra de alimentação para os mais necessitados, mas discorda dos valores do acordo com aqueles que decidiram denunciar o contrato.
"Vão receber 1142 euros de uma semana de trabalho e reembolso de despesas, 240 euros de alguns dias extra e 60 euros para o transporte do aeroporto até casa", detalhou.
Quanto a quem fica, a maioria do grupo inicial, poderá ter trabalho garantido durante mais um ou dois meses do que o previsto e até ver negociado um dia de descanso semanal, adiantou Rui Vidal.
Ainda assim, Fernando Dias, natural de Setúbal e que nos últimos anos tem trabalhado em países como França e Alemanha, alertou para o risco deste tipo de recrutamento.
"A gente nunca sabe ao que é que vem. As firmas contratam-nos, geralmente no escritório as coisas são assinadas e tratadas de uma maneira, mas quando chegamos já as situações são muito diferentes. Porque quem trabalha no escritório não sabe o que se vai passar depois", lamentou.
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