Xanana desafia países em desenvolvimento a resistirem a interesses externos
Porto Canal / Agências
Bali, 10 out (Lusa) - O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, defendeu hoje, em Bali, na Indonésia, que os países em desenvolvimento devem resistir aos interesses dos "países poderosos", vincando que "o ideal de apoio desinteressado não existe".
O chefe do governo timorense sustentou que os países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) -- entre os quais Timor-Leste tem apenas estatuto de observador - devem trabalhar em conjunto para que os "países poderosos" não desestabilizem a região.
O primeiro-ministro timorense falava na abertura do VII Fórum da Democracia de Bali, que decorre entre hoje e sábado na ilha indonésia.
Falando em "desonestidade", Xanana Gusmão frisou que, por vezes, interesses externos "criam instabilidade" e classificam as nações em vias desenvolvimento como "países em risco" para poderem "impor condições mais favoráveis para explorar os recursos" dessas regiões em proveito próprio.
"As sociedades das nossas nações devem saber que o ideal de apoio desinteressado não existe" e que interesses externos podem minar as sociedades e controlar instituições-chave do Estado, dividindo para reinar, "como nos tempos coloniais", alertou.
Xanana Gusmão avisou que se as sociedades em desenvolvimento não "querem entender" as diferenças entre as nações que lidam com problemas como a pobreza e a desigualdade social e os países desenvolvidos, que usaram "a força de trabalho de escravos, explorando a riqueza das colónias", "não haverá espaço para a coesão social".
O responsável político acrescentou que essa falta de união perante "ameaças de instabilidade provocadas por influências externas", aliada à instabilidade política, gera uma maior dependência.
Os intelectuais e os políticos "perderam a noção de soberania, de interesse nacional e de superior interesse das pessoas" e não entendem "a complexidade dos problemas dos países", "imaginando que as organizações internacionais que eles veneram e as nações ricas, a quem eles se submetem", podem resolver tudo num curto espaço de tempo, reforçou.
O primeiro-ministro considerou que "as nações ocidentais ou as democracias desenvolvidas exigem realizações integrais de todas as normas impostas" em convenções, sem compreenderem os problemas diários que os países em desenvolvimento enfrentam.
O chefe do governo timorense exemplificou que os meios de comunicação ocidentais "focam-se demasiado na corrupção dos países em desenvolvimento", quando este problema também existe no mundo ocidental.
Para Xanana Gusmão, há uma "total contradição na aplicação das normas para os países em desenvolvimento" quando "a violação de direitos humanos nas democracias desenvolvidas é sempre justificada com aquilo que é referido como a segurança interna".
"As desigualdades económicas e sociais na nossa região devem ser sempre um foco na nossa agenda de trabalho", pois "estes são os tópicos preferidos da intervenção e da ajuda externa", reforçou.
Frisando que o mundo avalia os países em desenvolvimento pela democracia e pelos direitos humanos, o líder timorense sublinhou que sem desenvolvimento não pode haver uma verdadeira democracia.
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