Padres do Douro denunciam dificuldades dos viticultores
Porto Canal
Os padres da Régua, Santa Marta de Penaguião e Mesão Frio denunciaram hoje as dificuldades, cada vez mais graves, dos pequenos e médios viticultores do Douro que há praticamente uma década perdem rendimentos provenientes da vinha.
"A nossa missão é denunciar os problemas e defender os nossos paroquianos", afirmou hoje à agência Lusa Luís Monteiro, um dos párocos da Região Pastoral do Douro, que assinou um comunicado enviado à comunicação social.
Esta não é a primeira vez que os párocos durienses alertam para os problemas da vitivinicultura duriense mas, segundo o responsável, "é preciso chamar a atenção de quem governa para a realidade nua e crua da degradação, cada vez mais grave, dos recursos económicos provenientes do cultivo da vinha".
"Sentimos realmente uma desigualdade muito grande no tratamento dos nossos paroquianos, por um lado, os pequenos lavradores e, por outro, os grandes, uma diferença que incomoda muito. No nosso comunicado, dizemos que há vinhas onde o produto da venda das uvas não dá sequer para pagar a vindima. Isso é aflitivo", salientou o sacerdote.
Luis Monteiro sublinhou que, nos últimos 10 anos, os preços dos vinhos para os pequenos e médios viticultores diminuiu "mais de 50%", ao mesmo tempo que "as despesas de cultivo foram sempre aumentando".
"Percorremos o Douro e há vinhas transformadas em monte, abandonadas, e há montes que estão a ser saibrados para serem transformados em vinha. O vinho dá ou não dá? Se dá para alguns transformarem os montes em vinha porque é que para outros não dá de tal forma que até têm que a abandonar", questionou.
O sacerdote revelou ainda que neste Douro vinhateiro as "dificuldades são cada vez mais visíveis".
"Alguns emigram e outros não têm coragem ou idade e então vão sobrevivendo. Com certeza que há também uma certa miséria escondida", sublinhou.
O padre disse ainda que "antigamente os pais tinham todo o cuidado e interesse em deixar como herança uma vinha aos filhos".
"Era uma bênção e agora é uma maldição, porque uma vinha é um peso morto, não dá lucro e só dá prejuízo", acrescentou.
Na sua opinião, a extinção da Casa do Douro (CD) como associação pública e a sua transformação em associação de direito privado, prevista para o final do ano, vai "deixar ainda mais desprotegidos" os lavradores e consequentemente "agravar a sua situação socioeconómica".
Outro problema apontado pelos sacerdotes é a crise financeira que atingiu algumas adegas cooperativas deste território.
Luís Monteiro referiu que o objetivo da tomada de posição dos padres que servem em Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião e Mesão Frio é alertar e pedir uma intervenção "urgente" do Presidente da República, Governo e Assembleia da República.
"É seu dever promover e defender o bem de todos, sobretudo dos mais fracos", afirmou.
Por fim, os párocos dizem que não é sua intenção "assumir qualquer posição político-partidária" e garantem que o que os move é a "defesa dos pequenos e médios viticultores desta região".