Marfim à venda em Luanda para chinês levar

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Porto Canal / Agências

Luanda, 13 jul (Lusa) - À entrada da feira de artesanato de Benfica, a 20 quilómetros de Luanda, Marcelo recebe os forasteiros com uma garantia: "Todos os preços se negoceiam. Tudo é negócio", conta, enquanto mostra uma banca com centenas de artigos trabalhados em marfim para delírio dos chineses.

Aqui tudo é feito às claras e sobre a proveniência do marfim, Marcelo, 33 anos e que partilha a banca com o primo, é vago: "O marfim vem dos caçadores, do Bié e do Cunene [centro e sul de Angola]. Compro a 450 dólares [330 euros] e depois trabalho-o eu", conta à Lusa.

A feira de artesanato é anunciada com placas logo à saída da capital. Resume-se uma área coberta com placas de zinco e cerca de 50 vendedores de peças de arte tradicional angolana.

Os vendedores de marfim são quase metade e as peças são expostas livremente, sem restrição, perante o olhar atento de dezenas de potenciais compradores, sobretudo chineses, mas também portugueses e brasileiros.

"Um quilo de marfim dá-me para fazer 60 destes fios. Queres comprar um? São 30 dólares [22 euros], mas podemos negociar", atira Marcelo, enquanto fala abertamente sobre o negócio.

Mesmo sem ser possível garantir a genuinidade de milhares das peças à venda, o cenário confirma o alerta da Organização Não Governamental 'Save The Elephants', que deu conta este mês que Angola é já o segundo maior mercado de comércio ilegal de marfim a retalho em África.

"Isto passa no aeroporto sem problema", garante por seu lado Marcelo, enquanto aponta para uma estatueta do buda, de 40 centímetros, pelo qual pede 1.470 euros.

"Para os chineses é o ouro deles. Adoram, até pauzinhos de comer fazemos em marfim para eles", admite.

Ao lado, Frederique, de 43 anos, é mais reservado. As peças pequenas, como brincos, anéis e pulseiras em marfim, à venda a partir de quatro euros, estão à vista.

As maiores estão ainda encaixotadas, não por receio mas para rentabilizar o espaço da banca, de dois metros quadrados.

Os artesãos locais, angolanos, tentam vender um pouco de tudo. Desde carteiras com pele de crocodilo a cintos de serpente, além das estatuetas em madeira. Contudo, não passam de um adereço, face à preponderância do marfim.

"Os chineses compram tudo em marfim. Sabes que o chifre é sinal de poder para eles", explica Germano, de 34 anos. No negócio desde os vinte, foi na República Democrática do Congo que aprendeu a "trabalhar" o marfim.

"Este candeeiro que tenho aqui é único. Demorou-me duas semanas a fazer e está à venda por um milhão de kwanzas [7.500 euros]", conta à Lusa, enquanto o retira de um caixote.

Trabalhado com motivos africanos até ao último pormenor, é proveniente da base de um chifre de elefante com 40 quilos.

Na banca improvisada de Germano os motivos envolvendo deuses chineses destacam-se, não representassem estes, segundo os próprios artesãos, "uns 80 %" de um negócio que, à luz das regras internacionais, é ilegal.

"Se eles vão embora de Angola é o fim", desabafa o jovem, enquanto vários chineses - estima-se que trabalhem no país, sobretudo nas obras, até 260 mil - percorrem as bancas do mercado, curiosos com as peças expostas.

"Estudei esta arte numa escola no Congo e depois ainda fui à China aprender sobre a cultura. Das primeiras peças diziam que mais pareciam um deus angolano, mas agora sim, está tal e qual", garante, orgulhoso.

Juntamente com o pai, Germano diz comprar o chifre em países vizinhos por 250 dólares o quilo. O que não usa para as suas obras, vende aos colegas pelo dobro.

"De Angola arranja-se, mas é mais difícil", assume, sem rodeios.

Já à saída da feira, Francisco, outro jovem artesão angolano, tenta vender uma peça imponente. Uma bengala, desmontável e trabalhada com motivos igualmente tradicionais, de quase um metro.

Pede 2.000 dólares, mas mais uma vez tudo é negociável. "É marfim puro e passa no aeroporto, sem problema, garantido. O último preço que posso fazer é 1.500 dólares [1.100 euros]", diz.

Pulseiras para mulher, por 22 euros, ou palitos para o cabelo, por 15 euros, são às centenas, mas até pentes ou estatuetas de Cristo, de várias dimensões, se encontram.

"Isto é arte para os angolanos. Arte nossa, mas os estrangeiros também levar", justifica Francisco.

PVJ/NME

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