Locomotivas a vapor esperam décadas por viagem de Gaia ao Entroncamento
Porto Canal / Agências
Vila Nova de Gaia, 07 jul (Lusa) -- As locomotivas a vapor abandonadas há mais de 20 anos em Gaia estão em 'perigo' e continuam à espera da finalização de um protocolo com a CP que as levará para o Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento.
Maria Rita Pereira, coordenadora do museu, assinalou o "interesse histórico" da fundação do museu quanto às locomotivas alemãs 294, 282 e 701 -- as primeiras construídas de acordo com especificações de engenheiros portugueses -- que apresentam um "caráter único no país" e cuja retirada da estação das Devesas, em Gaia, é "urgente" para que não se continuem a deteriorar.
A responsável contou à Lusa que o protocolo em causa "já tem algum tempo" e "está a ser analisado entre as duas entidades", continuando a "aguardar contacto" por parte da CP, detentora do material datado do início do século XX e atualmente abandonado e coberto por vegetação e ferrugem.
Já em 2007 o museu pediu um parecer à Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro (APAC) sobre o estado de conservação e viabilidade do restauro dos equipamentos em causa.
"A constatação imediata é que todas as locomotivas estão bastante degradadas, como aliás seria de esperar após quase 30 anos de abandono ao ar livre", revelava o relatório no qual também se afirmava que "mais de 80% do valor de cada locomotiva existe e é aproveitável para efeitos do seu restauro cosmético".
Hoje a APAC continua a dizer que a "situação das locomotivas é extremamente preocupante" e denuncia "uma situação de risco irremediável para a existência das locomotivas, não pelo seu estado, mas sim pela estabilidade do local onde se encontram abandonadas há décadas"
"A CP e a REFER devem assumir a sua exclusiva responsabilidade pelas décadas de abandono", defende a associação, lembrando que "desde 1992 tem alertado insistentemente a CP e as entidades oficiais" para a situação, "sem que nada se tenha feito".
O "perigo" da atual localização das locomotivas também é referido por Mike Williams, um engenheiro de locomotivas a vapor, e ex-diretor do museu ferroviário do Didcot Railway Centre (Inglaterra), que recentemente fez publicar na revista "Steam Railways" um alerta para a possibilidade de o terreno onde assentam poder "ruir nos próximos 12 a 18 meses" se houver "fortes chuvas e ventos", por causa da recente construção de uma nova estrada junto ao local, mas a um nível inferior.
Bem no fundo da estação de caminho-de-ferro das Devesas, estão quase escondidas seis locomotivas a vapor, retiradas do serviço ativo no final da década de 1970, guardadas no depósito de Contumil até ao início da década de 1990 e então levadas para Gaia.
Quatro dessas locomotivas estão destinadas à Fundação Museu Nacional Ferroviário (FMNF), através de protocolo, "cuja proposta está em fase de apresentação", indicou no início de junho a CP que já em 2012 dizia estar aquele material destinado a protocolar.
Ainda nesse ano a CP informou estar a contactar "diversas entidades para verificar a eventual existência de interesse" na preservação ou utilização de três das seis locomotivas "para fins museológicos ou outros", estando também a ser avaliada então a "possibilidade e viabilidade de poderem eventualmente ser aproveitadas peças para utilização noutro material" ou até a sua venda ou demolição.
Já este ano, e no início de junho, a autarquia garantiu ter contactado a CP no sentido de "garantir a salvação" daquele património, tendo o autarca Eduardo Vítor Rodrigues manifestado a disponibilidade de a câmara facultar um espaço para a instalação das locomotivas.
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