Lisboa, 30 jun (Lusa) - A Galeria Bessa Pereira, em Lisboa, vocacionada para a área do design, abre ao público na quinta-feira com uma exposição de Mattia Denisse, "Histórias Assimptotas do Homem sem Cabeça, da Mulher Geométrica do macaco e da Morte".

A galeria, situada na rua de S. Bento, prevê realizar "duas exposições anuais de arte na programação normal de design, como resultado natural das interligações existentes entre uma e outra disciplina", explicou à Lusa o galerista Carlos Bessa Pereira.

Referindo-se à escolha do artista francês Mattia Denise, de 47 anos, o responsável salientou que este "tem desenvolvido, ao longo dos últimos anos, um percurso artístico, coerente e singular, utilizando meios como a escrita, a escultura, o filme, a instalação e o desenho".

"Com uma obra inexplicavelmente ainda desconhecida da maior parte do público espetador de arte contemporânea, esta exposição percorre os últimos dois anos do seu trabalho, e esperamos poder proporcionar a visibilidade que julgamos merecida", rematou o responsável.

"Em breve", adiantou Bessa Pereira, será realizada neste espaço "uma exposição dedicada à abordagem feita por artistas plásticos ao Design e às práticas artísticas realizadas por Designers".

"Histórias Assimptotas do Homem sem Cabeça, da Mulher Geométrica do macaco e da Morte" estará patente até 02 de agosto, e "reúne um conjunto de desenhos policromáticos e monocromáticos que revelam alguns dos fantasmas explorados por Mattia Denisse desde 2009", disse a curadora da exposição, Catarina da Ponte.

O ano de 2009 é quando "o artista situa a génese de algumas das personagens que habitam, agora, as paredes da Galeria Bessa Pereira", acrescentou.

"Na altura, o artista recorda-se de desenhar uma mulher nua vista de costas, um macaco, um esqueleto e um homem deitado a contemplar uma batata a germinar, estas 'assombrações' foram ganhando consistência no seu universo plástico e apresentam-se agora sob a forma de desenhos, como resultado da particular e assimptótica forma de Denisse ver o mundo", afirmou à Lusa a curadora.

Sobre as personagens imaginadas - sendo que para o artista "o imaginário é a realidade ela mesma" -, o "Homem sem Cabeça" surgiu "a partir da leitura de duas obras, a 'Ética', do filósofo Baruch de Espinoza e 'Os Sertões', do escritor Euclides da Cunha".

Nesta obra de Euclides Cunha, o último capítulo "fez espoletar em Mattia um fascínio quase hipnótico por homens decapitados", referiu.

Quanto à "Mulher Geométrica", o seu "progenitor é Porfírio Espinoza, uma espécie de duplo do autor que, numa residência artística na Aldeia da Luz, no Alentejo, encontrou uma inusitada 'Mulher Geométrica'".

Finalmente, o símio que surge em muitos dos desenhos expostos, "remete-nos para o fantasma da origem e da evolução das espécies teorizado por Darwin".

"Todas estas personagens aparecem nos desenhos em cenários inusitados numa espécie de realidade ampliada ou 'zoom' de uma história maior; apesar de não constituírem uma narrativa linear, facilmente encontramos pontos de contacto e de continuidade em algumas das situações representadas", salientou Catarina da Ponte.

A exposição "Histórias Assímptotas do Homem sem Cabeça, da Mulher Geométrica do Macaco e da Morte", segundo Catarina da Ponte, "revela-se uma envolvente viagem sobre grandes temas universais da ciência, antropologia, filosofia através de 'fantasmas' não-coincidentes que Mattia Denisse reuniu na galeria lisboeta para dialogarem entre si", afirmou a curadora.

O artista é conhecido do público português. Em 2012 deu uma conferência sobre a queda de dois corpos, no âmbito do projeto Galeto, com curadoria de Nikolai Nekh e Claire de Santa Coloma, em Lisboa. Ainda na capital, em 2010, apresentou na galeria Zé Dos Bois "O CONTRA-CÉU - Ensaio sobre o Hiato", com curadoria de Natxo Checa e, em 2008, expôs "As ilhas desertas", na Galeria Graça Brandão, no Porto.

No ano passado e este ano, o artista apresentou projetos em S. Paulo e em Fortaleza, no Brasil.

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