Aveiro, 04 out (Lusa) - Mais de um ano e meio depois do início do julgamento do caso "Face Oculta", o Tribunal de Aveiro deverá concluir, no próximo mês de julho, a audição de todas as testemunhas arroladas no processo.

Até agora, já foram ouvidos seis arguidos e mais de 300 testemunhas, entre os quais inspetores da Polícia Judiciária, administradores, ex-administradores e funcionários de empresas como a Refer, REN - Redes Energéticas Nacionais, Estradas de Portugal, EDP Imobiliária e Petrogal e ex-governantes.

A 148.ª sessão do julgamento, que decorreu hoje, ficou marcada pelo depoimento de mais duas testemunhas: uma engenheira civil da REN e a antiga secretária pessoal do arguido Lopes Barreira.

A próxima sessão do julgamento, a última antes das férias judiciais, foi agendada para 12 de julho. Nessa altura, o tribunal vai voltar a inquirir a testemunha José Serrão, terminando, então, a audição das testemunhas chamadas a depor pelo Ministério Público e pelas defesas dos 36 arguidos.

De seguida, o tribunal deverá ouvir alguns arguidos que manifestaram vontade de prestar declarações, depois de terminada a fase de produção de prova.

Na sessão de hoje, o coletivo de juízes marcou ainda uma audiência para o dia 07 de agosto, durante o período de férias judiciais, para não deixar passar mais de 30 dias sem produção de prova.

Entretanto, o tribunal continua a aguardar pela conclusão de uma perícia do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), sobre o desmantelamento da Central de Alto Mira da REN.

A diligência, que foi requerida pelas defesas dos arguidos Fernando Santos e Vítor Batista, tem como objetivo esclarecer as divergências existentes sobre a quantidade de resíduos que foram retirados do local pela empresa O2, de Manuel Godinho, o principal arguido no processo.

O presidente do coletivo de juízes, Raul Cordeiro, disse hoje que os peritos "já ultrapassaram há muito" o prazo para concluir a perícia, lembrando que o tribunal "tem feito sentir a necessidade de promover com urgência o relatório".

Devido ao atraso desta perícia, o julgamento sofreu um enorme revés, levando o tribunal a agendar audiências com uma periodicidade mensal, desde março passado, em vez das habituais quatro sessões semanais.

Os técnicos do LNEC deslocaram-se à Central de Alto Mira, situada na Amadora, no passado dia 04 de junho, tendo aproveitado a visita para definir a metodologia dos trabalhos de peritagem.

Segundo o tribunal, ficou agendada uma segunda visita ao local para 02 de julho para a realização de escavações, no sentido de esclarecer se as fundações foram ou não demolidas.

O processo "Face Oculta" está relacionado com uma suposta rede de corrupção que teria como objetivo o favorecimento do grupo empresarial do sucateiro Manuel Godinho nos negócios com empresas do setor empresarial do Estado e privadas.

Entre os arguidos estão personalidades como Armando Vara, ex-administrador do BCP, e José Penedos, ex-presidente da REN, e o seu filho Paulo Penedos.

JYDN // MAG

Lusa/Fim