Macau, China, 02 jun (Lusa) -- Uma plataforma online em Macau junta, através do Facebook, milhares de imigrantes que trocam e vendem os pertences aos recém-chegados, num projeto que começou com a simples venda de bens pessoais de artistas de teatro.

Três anos e meio depois da sua primeira atuação, em fevereiro de 2012, o fim do espetáculo "Zaia", do Cirque du Soleil, obrigou os artistas a deixarem muito dos seus pertences em Macau, tendo sido criado um portal, denominado "ByeBye Zaia", que teve yn tak tanto sucesso que se transformou numa referência para quem quer bens em segunda mão.

"Com a ajuda do meu marido criámos o grupo com a intenção de facilitar a venda, troca ou até doação, do mobiliário e objetos decorativos que o 'staff' [do Cirque du Soleil] possuía", conta à agência Lusa Tracy Cheung Freyes, uma das mentoras originais do projeto.

Mas "a adesão foi incrível, o 'staff' convidou os amigos que, por sua vez, convidaram mais amigos e de 400 passámos a quase 6.000 membros", recorda

Esse sucesso fez alargar o projeto para além dos bens pessoais dos artistas.

"Comecei a notar que havia uma adesão cada vez maior e as publicações não paravam, havia todo o tipo de 'posts': desde estabelecidos há muito tempo no território à procura de algo em particular a recém-chegados que precisavam de mobilar as suas casas", explica a promotora, casada com um dos elementos da equipa do espetáculo "Zaia".

Por isso, Tracy Cheung Freyes decidiu manter o "ByeBye Zaia" 'online' e torná-lo numa plataforma que pudesse ajudar aqueles que acabavam de chegar a Macau, grande parte dos quais oriundos de Portugal.

"Não sei o número certo dos membros portugueses, mas sei que são uma grande fatia do grupo", que tem 5790 elementos, disse a administradora, sublinhando que devido ao seu espírito de entreajuda o grupo tem evoluído de uma forma constante.

"Os portugueses são muitos prestáveis, e sabem receber os novos membros muito bem", avaliou.

Residente em Macau desde 2005, Nuno Rodrigues considera a iniciativa "muito útil" pois permitiu-lhe "reciclar coisas usadas" que, em vez de irem para o lixo, serão úteis a outras pessoas.

Nuno Rodrigues ainda não comprou nada através do "ByeBye Zaia", mas já vendeu vários objetos, incluindo ventoinhas, mobílias e "muitos brinquedos e roupas" do filho que serão úteis a outras crianças.

Leonor Sá Machado, que acabou de deixar a capital portuguesa para trás, aderiu ao grupo e já tentou, embora em vão, a sua primeira aquisição. "Tentei comprar um sofá, mas não consegui, foi logo vendido", disse à Lusa a jovem portuguesa.

Leonor Sá Machado compara o grupo a outros portais de vendas, mas destaca a vantagem "de tudo ser rápido e perto", deixando de existir a questão de "transferências bancárias, envios pelo correio e toda a burocracia que a distância pode trazer".

Não são só mobílias ou peças de vestuário que se encontram no "ByeBye Zaia": Irene Abreu comprou o seu primeiro carro em Macau através do grupo.

"O meu marido viu o anúncio e vimos as condições. Por acaso era de uma pessoa que morava bem perto de nós, ligámos e no mesmo dia fechamos o negócio. Foi tudo muito rápido", relata Irene Abreu.

Em Macau há 22 anos, Irene acredita que o "ByeBye Zaia" veio "melhorar e descomplicar a vidas das pessoas", explicando que, "por vezes, fazer negócio pode tornar-se difícil" principalmente devido à barreira linguística.

Apesar de "todo o trabalho", necessário ao bom funcionamento do grupo, Tracy Cheung Freyes assume-se "muito feliz por conseguir facilitar a vida a tanta gente" que, por vezes, "verdadeiros negócios da China".

No "ByeBye Zaia", plataforma que utiliza o inglês, tudo se vende e se compra, seja em primeira, segunda ou terceira mão, mas também se encontram outras iniciativas sem caráter comercial, como campanhas solidárias, como a promovida no ano passado para ajudar as vítimas do tufão Haynan, nas Filipinas, donde são provenientes também muitos dos membros do "ByeBye Zaia".

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