Governo com resposta positiva insuficiente após a Capital Europeia da Cultura em Guimarães
Porto Canal / Agências
Guimarães, 24 jun (Lusa) -- José Bastos, diretor da Oficina, a estrutura que gere o Centro Cultural Vila Flor em Guimarães, considera que o "Governo não tem conseguido dar uma resposta tão positiva quanto isso" ao período pós-Capital Europeia da Cultura (CEC).
Para José Bastos que, com a Oficina, teve um papel fundamental na organização da CEC, os "principais problemas, após 2012, estão relacionados com os compromissos financeiros" que advêm das novas estruturas criadas durante a Capital.
Nessa área, o diretor da Oficina considera que "o Governo, que foi um dos integrantes da CEC, não conseguiu acompanhar e ser consequente com o que não poderia terminar em 2012". Felizmente, acrescenta, "a Câmara Municipal de Guimarães [CMG] tem conseguido que as coisas se façam da melhor maneira possível, porque tem a convicção de que a Cultura é fundamental para alavancar o que será o futuro".
Seis meses depois do fim da CEC, "há que encontrar soluções" para estruturas como o Centro para os Assuntos da Arte e da Arquitetura, e "a CMG tem conseguido dar respostas, onde o Governo não tem conseguido dar uma resposta tão positiva quanto isso".
José Bastos afirma que o "Governo deveria olhar para Guimarães não de uma forma privilegiada, mas equilibrada", mas que "Portugal tem padecido de não ter uma estratégia definida e consequente com as suas apostas".
Exemplo disso é o conflito com a Direção Geral das Artes (DGArtes) que levou mesmo a Oficina a interpor uma providência cautelar, por não concordar com os subsídios atribuídos por aquela estrutura da Secretaria de Estado da Cultura.
No despacho, entre outras críticas, a DGArtes estranhava que, "após uma Capital Europeia da Cultura, esta candidatura" continue "a apresentar como principal 'player' em Guimarães aquele que já existia antes da sua realização: a Oficina, não denotando um esforço para fazer participar (...) os novos interlocutores que certamente emergiram das dinâmicas implementadas, resultantes dos últimos anos".
Instado pela agência Lusa a comentar estas afirmações, José Bastos considera que "o disparate não tem limites", que "é pena que novos projetos que existem, como o CAA, não tenham sido apoiados pela DGArtes" e que "não basta dizer algumas banalidades para justificar uma decisão que, além de injusta, é ilegal".
A conclusão que retira é que "Portugal continua a padecer do centralismo" e que "as cidades de média dimensão têm de fazer um esforço suplementar" para se afirmar em áreas como a cultura.
A Secretaria de Estado da Cultura, contactada pela Lusa, entendeu não fazer qualquer comentário sobre o acompanhamento do Governo no pós-Capital Europeia da Cultura Guimarães 2012, nem sobre os apoios atribuídos pela DGArtes.
A Lusa tentou igualmente falar com o diretor executivo da CEC, Carlos Martins, sobre o mesmo assunto - acompanhamento do Governo no pós-Capital Europeia da Cultura -, mas sem êxito.
De qualquer forma, José Bastos faz um "balanço muito positivo do que a CEC trouxe a Guimarães em afirmação da cidade, investimento na cultura, na criação artística e numa nova mentalidade para os vimaranenses".
O diretor da Oficina considera que não é justo "comparar 2013 com 2012", mas que, se a comparação for feita com 2011, "então aí estamos sempre a falar de uma realidade aumentada".
Uma opinião positiva que é secundada por Miguel Moreira, do grupo de teatro o Útero que, durante 2012, se fixou na cidade e ali se mantém com dois dos seus elementos a viver: "Guimarães é uma média cidade, com múltiplas possibilidades para os criadores desenvolverem o seu trabalho, porque acabou por ficar com infraestruturas que são únicas".
Este ano o grupo tem andado mais fora de Guimarães, em digressão com vários dos seus espetáculos e a preparar um novo, intitulado "Pele", que será ainda objeto de residência artística na cidade.
Quarta-feira, Guimarães 2012 apresenta em conferência de imprensa o programa "Cultura Capital", quinzena de celebração, reflexão e legado da Capital Europeia da Cultura.
DP/JYCR/CCM/MAG // MAG
Lusa/Fim