Indústria portuguesa entusiasmada com parceria transatlântica

| Economia
Porto Canal / Agências

Lisboa, 23 mai (Lusa) - A parceria transatlântica de comércio entre EUA e União Europeia entusiasma os industriais portugueses, que encaram o gigantesco mercado do outro lado do Atlântico como um motor para as exportações, mas nem todos os setores sairão vencedores.

As várias confederações e organizações que passaram pela Assembleia da República numa ronda de audições a propósito deste assunto foram unânimes em apoiar o acordo.

Para o diretor-geral da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Alfaiate, "há poucas hipóteses de promover o crescimento" económico como a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), mas assume nem todos irão "ganhar da mesma maneira".

O setor agro-alimentar, nomeadamente a indústria do concentrado de tomate, pode ser um dos perdedores.

Os industriais do tomate já mostraram a sua preocupação, alertando para o impacto da abolição das taxas alfandegárias e pedindo um prazo entre cinco a sete anos para se adaptarem à realidade competitiva prevista no acordo.

No caso das negociações agrícolas este "é sempre um setor delicado" assumiu, em declarações anteriores à Lusa, o secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães. "Não queremos que as transformações sejam súbitas", frisou, após uma reunião onde recolheu contributos de empresas e associações nacionais para as negociações ao nível do TTIP.

As áreas vulneráveis "estão identificadas": são, por um lado, produtos de carne bovina e, no agroindustrial, os processados e concentrados de tomate ou de laranja.

Quanto a algumas frutas, maçãs e peras, estas estão excluídas do mercado norte-americano por questões fitossanitárias. "Se isso for resolvido, o potencial de crescimento é enorme", disse à Lusa.

"A convicção que existe por parte da generalidade das empresas" portuguesas é a de que têm "capacidade efetiva do ponto de vista concorrencial, inovador e de integração" para agarrar a oportunidade, destacou, por seu lado, no Parlamento, o presidente do Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (IAPMEI), Miguel Cruz.

O responsável do IAPMEI admitiu que existem um conjunto de "constrangimentos", como a questão dos vistos ou das taxas aduaneiras sobre determinados setores ou em relação à obtenção de alvarás, mas isso "não impede que a generalidade das empresas que têm sido objeto de auscultação olhe para este mercado [EUA] de forma favorável".

É o caso da indústria do calçado para quem o mercado norte-americano representa um quarto dos potenciais clientes (com um rendimento superior a 30 mil dólares per capita), podendo vir a tornar-se no principal destino das exportações.

O diretor executivo da Associação dos Industriais de Calçado, João Maia, estimou que existam 200 milhões de potenciais clientes nos Estados Unidos.

Também para o setor dos serviços, o acordo destaca-se mais pelo potencial de crescimento, sobretudo em áreas como as atividades de projetista e outras relacionadas com o setor da construção, do que pelas incertezas.

O vice-presidente da CCP (Confederação do Comércio e Serviços), Vérter Gomes, afirmou, numa audição parlamentar, não ter "à priori', quaisquer reservas em relação ao acordo", mas considerou que há "detalhes que devem ser debatidos", nomeadamente aspetos relacionados com produtos químicos.

O acordo comercial terá também implicações no mercado energético, o que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, considerou ser "um ponto crucial da negociação" que deve "ficar devidamente salvaguardado", devido às "eventuais assimetrias ou disfunções em termos de concorrência, que derivam do acesso a uma energia mais barata".

A quinta ronda de negociações entre os Estados Unidos e a União Europeia sobre o TTIP termina hoje em Arlington.

O tratado que poderá criar a maior zona de comércio livre do mundo, ao abolir barreiras alfandegárias e procedimentos reguladores, é também alvo das críticas de várias organizações que denunciam a sua falta de transparência e riscos nas questões sociais e sanitárias.

RCR /(MBA/ALU/JS/EA/JYS) // VC

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