Crise fez aumentar população que recorre aos tribunais - Carlos Poiares
Porto Canal / Agências
Lisboa, 22 mai (Lusa) -- O psicólogo forense Carlos Poiares advertiu hoje que a crise fez aumentar a população que recorre aos tribunais devido à perda das casas e aos divórcios, alertando para o risco de maior exclusão social destas pessoas.
"Esta crise veio acima de tudo criar novas necessidades" que exigem a intervenção da psicologia forense, disse o especialista, em declarações à agência Lusa à margem do Congresso Internacional da Área de Psicologia Forense e da Exclusão Social -- Caleidoscópio de Vida, que decorre até sábado em Lisboa.
O psicólogo forense e presidente da Psijus - Associação para a Intervenção Juspsicológica disse na sua intervenção no congresso que "a crise está a levar as pessoas a tribunal e ao aumento das ruturas da conjugalidade", o que "acarreta um nível de exclusão muito elevado e problemas graves ao nível das crianças".
"Na população criminal [nas prisões] os aumentos não são significativos, segundo os dados, mas a população que está em tribunal" por causa de problemas resultantes do desemprego, como a perda da casa por hipoteca, está a aumentar, assim como os divórcios, que trazem "efeitos nefastos", adiantou.
Deu como exemplo os impacto que têm nas famílias, sobretudo nas crianças, as situações de divórcio, de desemprego, o aumento do horário de trabalho e a redução do subsídio de desemprego e do rendimento social de inserção.
"A crise provoca nas crianças um sofrimento inerente ao sofrimento dos pais e da família", porque assistem "à partida dos irmãos mais velhos que tiveram de emigrar devido ao desemprego e veem os pais desempregados", entre outras situações.
Carlos Poiares sublinhou que estas são "novas necessidades" que estão a surgir na área de trabalho da psicologia forense.
"O psicólogo forense não é um assistente social, mas conhece os meandros da exclusão, porque a população forense é cada vem mais uma população que está a paredes meias com uma situação de exclusão", sustentou.
Perante estas situações, Carlos Poiares alertou na conferência, promovida pela Universidade Lusófona, que, "se os poderes continuarem cegos, surdos, mudos e não houver um trabalho psicoinclusivo com estas populações, alguma coisa irá acontecer".
Advertiu também para os riscos de, em tempos de crise, se legislar muito e "nem sempre bem".
"Há áreas que não precisam de tanta lei, precisam é que a lei seja mais ligeira e que produza efeitos", disse, rematando: "Às vezes os governos acham que o PIB aumenta com a produção legislativa".
Para Carlos Poiares, uma "boa maneira" de lidar com esta crise seria baixar o tempo da jornada de trabalho, ao contrário do que tem sido feito: "Podia ser apenas simbólico", mas teria efeitos positivos.
"As pessoas estão desinvestidas e é muito fácil passar para o lado da exclusão, é muito fácil deixar-se de estar integrado", alertou.
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