Tondela, 09 mai (Lusa) -- A fé levou Júlio Fernandes a carregar às costas uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, que segue à frente de sete dezenas de peregrinos num percurso de cerca de 160 quilómetros, iniciado em Tondela.

Dos 48 anos de vida, Júlio Fernandes foi a Fátima a pé em 25. Este ano, mais uma vez, espera conseguir cumprir a promessa e, apesar do peso adicional da imagem, chegar ao santuário no domingo.

"A minha vida teve um bocado de dificuldades e eu agarrei-me à Nossa Senhora, que me tem ajudado muito", disse à agência Lusa o homem que integra um grupo organizado pela Associação de Peregrinos de Nandufe, constituído por pessoas de várias freguesias do concelho de Tondela.

Júlio Fernandes vai na frente, convencido de que a imagem de Nossa Senhora de Fátima motivará os restantes peregrinos, ajudando-os a ultrapassar as dificuldades.

"Aguentar as dores é um grande sacrifício que temos de fazer para lá chegar. Mas com Deus e a Nossa Senhora conseguimos", disse, convicto.

Para este devoto, o caminho entre Tondela e Fátima "tanto dá para rir, como para chorar, tem de tudo um pouco".

"Quando chegamos à entrada de Fátima, dá sempre para chorar", admitiu.

Mauro Teles, de 27 anos, já tinha ido a Fátima de bicicleta com membros do grupo, mas nunca a pé.

"O que me motivou foi uma promessa que fiz há uns tempos e que tinha de cumprir", justificou, considerando que esta foi a melhor altura para o fazer, uma vez que, para o ano, prevê entrar no mercado de trabalho e ter menos disponibilidade.

O seu maior receio são as dores musculares e o calor, mas está otimista: "Acho que o convívio vai ajudar muito a que corra tudo bem".

Empenhada em que nada falhe está a direção da Associação de Peregrinos de Nandufe, criada há pouco mais de dois anos.

"Levamos duas enfermeiras, uma fisioterapeuta, um cozinheiro, temos as dormidas marcadas, os banhos, damos as refeições, apoio total. Até seguro levamos", contou à Lusa Jorge Marques, presidente da associação.

Jorge Marques já foi a Fátima a pé onze vezes. Prometeu fazê-lo enquanto aguentasse e decidiu, com um grupo de amigos, criar a associação para dar apoio a outras pessoas com a mesma intenção.

O grupo começou com oito pessoas e foi aumentando. Este ano são cerca de 70 e, para o próximo, deverão ultrapassar a centena.

Além de seis carrinhas de apoio, a associação tem duas tendas, com uma área total de 19 por seis metros, que podem ser usadas para servir as refeições quando está muito calor ou a chover e para pernoitar, se houver necessidade.

O cozinheiro José Oliveira, de 70 anos, assegura-se de que não é por falta de comida que vai acabar a força nas pernas dos peregrinos.

Uns vão "a pão e água", e há que respeitar essa opção, "um ou outro com uma dietazita", mas para os restantes faz questão de preparar comidas reconfortantes e que reponham as energias.

"À noite é sempre uma comida mais leve, mas ao almoço é 'comidazinha' que lhes dê resistência para irem por aí abaixo", garantiu, contando que costuma preparar pratos como feijoada, rancho ou arroz à valenciana, "para lhes dar 'genica'".

Se tudo correr como planeado, o grupo chega ao Santuário de Fátima no domingo, à hora de almoço.

Jorge Marques não tem dúvidas de que, nesse momento, o sentimento dos peregrinos é comum a todos: "É como chegar ao altar do mundo. Tudo chora, tudo fica comovido, não tem explicação".

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