Governo timorense prefere ligação submarina de fibra ótica à Austrália

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Porto Canal com Lusa

Díli, 22 out 2020 (Lusa) -- O Governo timorense está a concluir análises técnicas, financeiras e jurídicas para um acordo de ligação submarina de fibra ótica à Austrália, projeto que representa entre 40 e 60 milhões de dólares investimento, disse o ministro da tutela.

O vice-primeiro-ministro e ministro do Plano e Ordenamento, José Reis, que está a liderar o projeto, explicou em entrevista à Lusa que a opção preferida do executivo é a ligação à Austrália, ainda que investidores privados possam fazer outras ligações no norte da ilha.

Depois de "quatro ou cinco anos" de debates sem decisão, Reis disse que o Governo está empenhado em fechar o acordo, explicando que as análises estão a ser feitas em coordenação com o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, o Ministério das Finanças e o Ministério dos Transportes e Comunicações.

"Já apresentámos as várias alternativas ao senhor primeiro-ministro para as levar ao Conselho de Ministros para que se tome a decisão política sobre este projeto", disse.

No que se refere às questões técnicas, há três opções de conexão: até Suai, na costa sul, e depois por terra até Díli, por mar diretamente até Díli ou então com dois postos de conexão, um em Suai e outro em Díli.

"A opção para Suai e depois até Díli é de cerca de 875 quilómetros, mas se for diretamente a Díli é de cerca de 600", explicou.

Relativamente à modalidade de investimento, José Reis explicou que o custo estimado de "entre 40 e 60 milhões de dólares [34 a 51 milhões de euros]" pode ser financiado a 100% pelo Governo de Timor-Leste, com base na transferência de uma licença da Austrália, ou então em modelo "misto", com 80% do custo de Timor-Leste e os restantes da Austrália.

Dependendo das opções finais, o projeto poderá estar concluído em setembro de 2022 ou, em alternativa, em meados de 2023.

Finalmente, o Governo está ainda a ver as questões jurídicas, já que "será a primeira ligação de fibra ótica ao país e é preciso haver uma base legal para isso".

José Reis explicou que na mente do Governo estão também as questões "políticas, de segurança e soberania", tema que vai ser analisado pelo executivo, bem como a modalidade de gestão e posterior acesso dos operadores ao cabo.

"Este é um assunto da máxima importância. É pertinente e ajudará a reduzir os custos no país", disse.

"Por isso estamos já a retomar os contactos com o Vocus Group, com quem inicialmente o Governo falou, para decidirmos sobre as alternativas de desenho", notou.

A opção que o Governo está agora a considerar assenta numa proposta apresentada pela Vocus Group, a quarta maior empresa de telecomunicações australiana, que esteve em Timor-Leste em março de 2019 a apresentar alternativas e cenários ao atual Governo.

Na altura, Michael Ackland, diretor nacional de Governação e Projetos Estratégicos do Vocus Group, defendeu em declarações à Lusa a importância da ligação de fibra ótica, considerando que a qualidade e o preço do acesso à internet em Timor-Leste só melhoram se o país reduzir os custos de fornecimento, com um cabo submarino de fibra ótica.

Segundo a Vocus, os operadores em Timor-Leste gastam 12 milhões de dólares por ano na compra de acesso à rede internacional através de satélite, com esse valor a ser multiplicado depois nos custos para os clientes, que têm velocidades lentas e instáveis.

"O preço aqui é em média de 200 dólares por megabit por segundo por mês. Timor compra 8 gigabits. Isso representa 12 milhões de dólares [10,1 milhões de euros]", explicou, referindo que o preço por megabit/segundo em Darwin é de apenas "cinco a seis dólares".

O grupo quer ser parceiro de Timor-Leste (sem ser construtor) na eventual ligação do sul do país a um outro cabo recentemente terminado e que passa ao lado da fronteira marítima com a Austrália, no Mar de Timor.

A rede da Vocus inclui, entre outros, um cabo que liga a cidade australiana de Perth a Singapura e um outro que conecta este até Port Heldand no noroeste da Austrália e continua depois até Darwin, passando ao lado da fronteira no Mar de Timor.

Seria deste cabo, o North Western Cable System (NWCS), possível uma ligação por cabo submarino, de 250 quilómetros, até ao sul de Timor-Leste.

A questão da ligação externa do país à rede de fibra ótica tem estado sucessivamente na agenda de vários governos, com várias opções em cima da mesa, sem que, em concreto, tenha avançado qualquer projeto.

Diferenças políticas, pressões de grupos empresariais e operadores nacionais e estrangeiros e a indecisão de sucessivos governos resultam que o país continua a ter acessos à internet caros e lentos.

Opções sobre ligações à Indonésia, Singapura ou Austrália, sobre opções mistas terrestres e submarinas e sobre o modelo de gestão do acesso à fibra têm marcado os debates, com apelos sucessivos das operadoras ao Governo para resolver o assunto.

O acontecimento mais recente na polémica ocorreu em março de 2018, quando o país estava no meio de uma profunda crise política -- que acabaria por levar a eleições antecipadas -- e o então Governo minoritário, liderado pela Fretilin, assinou uma carta de intenções com duas empresas indonésias para a instalação de um cabo de fibra ótica entre a ilha indonésia de Alor e Timor-Leste, num investimento privado de cerca de 20 milhões de dólares.

Essa carta de intenções com as empresas Moratelindo e Telin que iriam instalar o cabo foi fortemente contestada pela então oposição maioritária.

Um estudo de 2019, o "Speed Matters", estimava que uma ligação internacional de fibra ótica traria benefícios anuais a Timor-Leste superiores a 40 milhões de euros.

A melhoria do acesso à internet pode representar um aumento total de 23 milhões de dólares (19,4 milhões de euros) por ano em salários, com mais 4,2% de empregos ou até 16 mil empregos adicionais.

 

ASP // JMC

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