Biografia de Adolfo Kaminsky realça apoio aos exilados portugueses em Argel

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Porto Canal com Lusa

Lisboa, 10 out 2020 (Lusa) - Irene Hipólito dos Santos, autora do posfácio do livro "Adolfo Kaminsky - O Falsificador", realça o caráter rebelde e humanista do homem que salvou milhares de judeus, na Segunda Guerra Mundial, e que depois auxiliou desertores e refugiados políticos, incluindo portugueses.

"O livro agora traduzido e editado em português representa um contributo notável para enriquecer o panorama literário e reflexivo com a biografia deste homem absolutamente ímpar. Raros são os exemplos de pacifismo e humanismo tão profundos e rebeldes", escreve Irene Hipólito dos Santos sobre Adolfo Kaminsky no livro "O Falsificador", de Sarah Kaminsky, recém-publicado em Portugal.

"Kaminsky 'defendia firmemente a ideia de que qualquer indivíduo, em especial se é perseguido e a sua vida está em perigo, poder beneficiar do direito de circular livremente, atravessar fronteiras e escolher e escolher o destino do seu exílio'. Adolfo Kaminsky dedicou-se a salvar vidas em nome dos valores mais nobres", conclui a autora do posfácio do livro "O Falsificador".

Adolfo Kaminsky, nascido em 1925, em Buenos Aires, Argentina, no seio de uma família russa de origem judia, que se muda para França no início dos anos 1930, junta-se à Resistência Francesa, em Paris, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) com apenas 17 anos.

Depois da Libertação de Paris, em junho de 1944, foi recrutado pelos serviços secretos franceses para fabricar documentos falsos para os soldados Aliados que eram projetados atrás das linhas nazis.

Mais tarde, Kaminsky dedicou-se à produção de documentos aos sobreviventes judeus dos campos de concentração que embarcavam clandestinamente para a Palestina (1946-1948) tendo-se colocado depois ao serviço da Frente de Libertação Nacional durante a Guerra da Argélia.

Iniciou igualmente revolucionários espanhóis antifranquistas e portugueses antifascistas nas técnicas de falsificação, nomeadamente o português José Hipólito dos Santos da LUAR - Liga de Unidade e Ação Revolucionária, e proporcionou identidades falsas aos que lutavam na Guatemala contra o general golpista Castillo Armas ou aos opositores contra a ditadura dos Coronéis, na Grécia ou a refugiados políticos brasileiros, entre outros.  

Irene Hipólito dos Santos é filha de José Hipólito dos Santos (1932-2018) membro do MUD-Juvenil, participante na Revolta da Sé (1959) e no Golpe de Beja (31 de dezembro de 1961), ex-preso político e antigo exilado em Argel, ex-dirigente do MAR - Movimento de Ação Revolucionária e da LUAR.

José Hipólito dos Santos é referido na biografia de Adolfo Kaminsky como discípulo aplicado, em Argel.

"Eu fui um bom professor e tive alunos excelentes. José Hipólito dos Santos, um português que ocupava um cargo de direção na LUAR foi um discípulo aplicado. Tornou-se especialista em autorizações de desmobilização e certificados militares que serviram a muitos jovens anticolonialistas para desertar do Exército português", recorda Adolfo Kaminsky sobre o exilado português, durante a Guerra Colonial (1961-1975).

O livro "O Falsificador", publicado em França em 2010, foi editado este mês em Portugal realçando, a edição portuguesa, as ligações de Adolfo Kaminsky aos movimentos de libertação contra o colonialismo português assim como os contactos com desertores, refratários e exilados portugueses durante a ditadura do Estado Novo.

"O meu pai fazia papéis [documentos falsos] para os portugueses, mas depois era preciso produzir mais documentos para que o processo fosse mais autónomo e eficaz. Por isso, acolheu José no 'laboratório' e ensinou-lhe as técnicas de falsificação dos documentos de identidade ou cartas de condução. O meu pai falava muito da situação de Portugal e ajudou muito os desertores da Guerra Colonial", disse à Lusa Sarah Kaminsky, autora do livro "Adolfo Kaminsky - O Falsário".

 

PSP // MAG

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