Apoio de deputados do PAIGC a Governo demonstra fragilidade da democracia na Guiné-Bissau - analista

| Mundo
Porto Canal com Lusa

Bissau, 04 jul 2020 (Lusa) - O analista guineense Diamantino Lopes considerou hoje que o apoio de cinco deputados do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde ao programa do Governo de Nuno Nabian demonstra a "fragilidade da democracia" na Guiné-Bissau.

"Parece um ato democrático normal, mas na verdade está muito longe disso, considerando todo o aparato que antecedeu a convocação da sessão parlamentar", afirmou o sociólogo Diamantino Domingos Lopes, em declarações à Lusa.

O analista deu como exemplo o sequestro, em maio, do deputado Marciano Indi, líder de bancada parlamentar de Assembleia do Povo Unido -Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB).

"Até hoje não existe uma justificação formal e oficial do Ministério de Interior sobre o sucedido, também faltou uma reação enérgica da Assembleia Nacional Popular e dos deputados e de todas as formações políticas, exceto do PAIGC e seus aliados", afirmou.

O programa de Governo de Nuno Nabian foi aprovado na segunda-feira com o apoio de cinco deputados do PAIGC, que viabilizaram, assim, a maioria reivindicada pelo Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15), Partido de Renovação Social e Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB).

Aquelas três formações políticas, que constituem o atual Governo, nomeado pelo Presidente do país, Umaro Sissoco Embaló, reivindicavam a maioria no parlamento, apesar de quatro dos cinco deputados da APU-PDGB manterem fidelidade a um anterior acordo de coligação assinado entre o PAIGC, a APU-PDGB, União para a Mudança e Partido da Nova Democracia.

Para Diamantino Domingos Lopes, isto revela "ausência de solidariedade mecânica", ou seja, "menos competição e mais harmonia, coesão e integração" e excesso de "competição, divisão e conflito social, que é característica da sociedade guineense".

"É complicado descrever e compreender a realidade sociopolítica da Guiné-Bissau, devido à ambiguidade entre a irracionalidade e racionalidade, dilema e consenso, ação individual e coletivo", afirmou.

Segundo o sociólogo, o que aconteceu no parlamento na segunda-feira demonstra a "incongruência da relação e interação social", bem como a "falta de compromisso com o interesse do grupo de pertença".

Os cinco deputados do PAIGC, que já não tinham participado nas jornadas parlamentares do partido, "decidiram furar o boicote", viabilizando não só a realização da sessão plenária, como também a aprovação do programa do Governo, justificando "simplesmente com o interesse da Guiné-Bissau".

Em relação ao presidente do parlamento, Cipriano Cassamá, e que assume também as funções de vice-presidente do PAIGC, Diamantino Domingos Lopes disse que "fez o jogo mais complicado".

"Assumiu uma orientação do Presidente para encontrar solução para um problema, caso contrário o parlamento seria derrubado, e com base nessa pressão deu fuga para frente assumindo a responsabilidade de encontrar solução, mesmo fora do âmbito das suas competências", salientou.

O analista considerou que Cipriano Cassamá viu um "caminho aberto" para "concretizar o seu maior sonho", que é chegar à liderança do PAIGC e "projetar a ida para o Palácio da República".

"Merece ou não ser sancionado, merece, apesar de votar contra (programa do Governo), ele neste momento foi quem mais atingiu o partido", disse.

O analista considerou, por outro lado, que o PAIGC tem tido problemas em lidar com a situação política vigente, legitimando ou não as autoridades instaladas.

"A presença da direção do partido nas reuniões com o Presidente da República, considerações e advertências que ao longo do tempo faz ao Governo, faz pensar que as legitima", disse.

Por essa razão, defendeu o sociólogo, o PAIGC deveria ter estado presente na abertura da sessão parlamentar, para haver debate político sobre as ideias e as orientações políticas do partido.

"Seria um bom momento de debate político sobre os valores democráticos, fundamentada na ética, compromisso, liberdade e responsabilidade. Era uma bela oportunidade para reabrir os textos do compromisso assumido para com o partido e consequentemente para com o eleitorado", salientou.

"Mas, o meu maior medo é a supremacia do poder económico face aos valores, o dinheiro não deve comprar a democracia, isto porque quem paga a fatura é a sociedade", concluiu.

MSE // VM

Lusa/Fim

+ notícias: Mundo

Ex-membro da máfia de Nova Iorque escreve livro dirigido a empresários

Lisboa, 06 mai (Lusa) -- Louis Ferrante, ex-membro do clã Gambino de Nova Iorque, disse à Lusa que o sistema bancário é violento e que escreveu um livro para "aconselhar" os empresários a "aprenderem com a máfia" a fazerem negócios mais eficazes.

Secretário-geral das Nações Unidas visita Moçambique de 20 a 22 de maio

Maputo, 06 mai (Lusa) - O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, vai visitar Moçambique de 20 a 22 de maio, a primeira ao país desde que assumiu o cargo, em 2007, anunciou o representante do PNUD em Moçambique, Matthias Naab.

Síria: Irão desmente presença de armas iranianas em locais visados por Israel

Teerão, 06 mai (Lusa) - Um general iraniano desmentiu hoje a presença de armas iranianas nos locais visados por Israel na Síria, e o ministro da Defesa ameaçou Israel com "acontecimentos graves", sem precisar quais, noticiou o "site" dos Guardas da Revolução.