25 Abril: Ainda há partidos que pintam murais políticos

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Porto Canal / Agências

Lisboa, 10 abr (Lusa) -- Com o 25 de Abril de 1974, os muros e paredes das cidades começaram a encher-se de pinturas, da responsabilidade de partidos políticos como o PCP e o PCTP-MRPP, cujos militantes ainda hoje se dedicam a essa arte.

Seixas do Carmo tem hoje 70 anos e está reformado. Na década de 1970, era pintor e cenógrafo, pintava painéis de cinema, entretanto substituídos pelos cartazes de papel, e trabalhou também em teatro. Era e é militante do MRPP.

Em declarações à Lusa, recordou o processo político pelo qual os murais passavam, antes de começarem a ser pintados.

Primeiro, "havia uma decisão política do Comité Central", depois o tema escolhido "ia ao comité dos gráficos, que fazia parte do departamento de propaganda", no qual se decidia o que iria ser pintado.

"Alguém ficava responsável por fazer a maquete, que depois ia novamente ao Comité Central para aprovação. Depois de estar tudo decidido, íamos então ao trabalho", contou à Lusa, a propósito dos 40 anos do 25 de Abril.

O mesmo sistema era utilizado pelo PCP, recordou Carlos Martins, pintor aposentado e membro executivo da comissão concelhia de Almada.

A pintura de murais era feita "como tarefa de partido, era discutida na direção", disse Carlos Martins.

Os desenhos eram transpostos para a parede de três maneiras, segundo Rosário Félix, 63 anos, professora reformada de artes do ensino secundário, que na década de 1970 pintou murais do MRPP.

"Além das pichagens antes do 25 de Abril, que eram feitas muito rapidamente, o que podemos considerar pintura mural era com moldes, com quadrícula ou sem nada", afirmou.

Os moldes eram utilizados quando a ideia era que as pinturas "fossem muito divulgadas e pintadas por outras pessoas", segundo Rosário Félix.

"Fazíamos um molde, uma espécie de um 'stencil', distribuía-se e qualquer um podia pintar", disse.

As mensagens e temas das pinturas escolhidos pelos dois partidos eram essencialmente os mesmos -- salários, desemprego, habitação, saúde, educação.

No caso do MRPP, recordou Seixas do Carmo, "era transmitida a mensagem do partido: contra a fome, a miséria, o desemprego, pela independência nacional, liberdades e democracia".

Hoje, "há muitos temas que serão parecidos ou semelhantes", afirmou Miguel Casanova, 42 anos, funcionário do PCP envolvido nas pinturas de murais.

"Temos muitos em defesa dos direitos dos trabalhadores e dos serviços públicos, evocativos, de comemoração de algumas datas, outros servem como propaganda, mobilização para as lutas que estão em curso, por exemplo, uma manifestação grande", disse.

Seixas do Carmo ainda participa na pintura de murais do MRPP, embora o partido só o faça em raras ocasiões. Rosário Félix já não e considera que as motivações de quem os faz, fora dos partidos, são diferentes das de há 40 anos.

"Eu acho que a mensagem não é a mesma. Nós éramos novos e as pessoas tinham uma consciência grande dos problemas que atravessávamos na altura. Agora, quem tem 20 e tal, 30 anos, tem outros problemas, diferentes dos nossos. O que motiva esses graffiti é completamente diferente do que nos motivava, mas há coisas muito bonitas", disse.

Miguel Casanova crê que esta continua a ser uma forma de propaganda muito eficaz.

"Não só o número de pessoas que envolve, hoje também se discute o que vamos fazer entre todos e depois avançamos para a pintura, mas também o efeito que causa nas pessoas. Quando estamos a pintar, quem vai passando vai comentando, falando", afirmou.

Até porque "os órgãos de comunicação social, a gente sabe o que é", acrescentou Carlos Martins.

O mesmo acontecia, e acontece, com o MRPP. "Era uma mensagem visual muito forte, porque nós não tínhamos acesso às televisões, aos meios de comunicação", referiu Rosário Félix.

"Como hoje", apressou-se a acrescentar Seixas do Carmo.

Os 'muralistas' dos dois partidos concordam que hoje, em certa medida, "é mais difícil" pintar murais como os de há 40 anos, porque "há um grande cerco à liberdade de expressão".

Miguel Casanova fala em "ataques aos direitos", incluindo à liberdade de expressão, e lembra que as pinturas tiveram e têm um teor político importante.

"Queremos e vamos continuar a fazer", garantiu.

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