25 Abril: Pinturas políticas em paredes ressurgem pelas mãos de artistas urbanos

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Porto Canal / Agências

Lisboa, 10 abr (Lusa) -- As mensagens políticas e de crítica social passadas em 1974 através de murais políticos têm ressurgido nos últimos anos nas paredes pelas mãos de artistas urbanos apartidários como Miguel Januário e Adres, nascidos depois da Revolução dos Cravos.

Miguel Januário, através do projeto maismenos, é responsável por ter deixado em muros frases como "Until debt tear us apart" ("Até que a dívida nos separe"), "Em nome do Sonae, do Amorim e do Espírito Santo. Amén" e "E depois do adeus, adeus".

A última frase, pintada em Alcântara, Lisboa, "mostra um bocadinho o incumprimento do que foi o 25 de Abril".

"Nunca se resolveu, nunca se cumpriram as promessas da revolução. É essa a mensagem que pretendo passar aqui", referiu Miguel Januário, em declarações à Lusa, a propósito dos 40 anos da Revolução dos Cravos.

Para o artista, deixar frases em paredes, à vista de todos, é "sem dúvida" uma maneira eficaz de passar mensagens. "É essencial. A rua acaba por ser o espaço público que pertence a todos, a grande arena, e é também aí que têm que ser levantadas estas discussões", defendeu.

Também para Adres "continua, mais do que nunca," a fazer sentido deixar mensagens em paredes. "Basta uma frase com palavras de ordem. Para a minha geração os tempos nunca estiveram tão maus. É a arma perfeita", disse.

Adres espalhou em muros crianças a segurarem cartazes com frases como "Educassão é icenssial" ou "Quando for grande quero ser feliz".

O artista, que começou pelos tradicionais 'bombing' (graffiti rápido, ilegal) e 'tagging' (assinaturas), é também o autor de uma imagem da morte segurando um rolo de pintura, em vez de uma forca, com que escreveu "PORTUGAL".

"As pessoas podem achar que não, mas o graffiti é das armas mais importantes, está à vista de todos, ao alcance de todos, não há censura direta", defendeu.

Miguel Januário e Adres são dos poucos artistas urbanos portugueses cujo trabalho tem um pendor mais político. Entre outros, há também Nomen, um dos pioneiros do graffiti em Portugal, autor dos murais das Amoreiras (Lisboa) em que surgem Pedro Passos Coelho, Paulo Portas e Angela Merkel.

"É pena não existir mais esse trabalho de intervenção. Na verdade, esse registo foi desaparecendo nos anos 1980 e acabou até por ser censurado, já em democracia. Ressurge com estes novos registos, mais atuais, ligados à 'street art' e ao graffiti", referiu Miguel Januário.

Muitas das obras deixadas nas cidades por estes e outros artistas acabam por desaparecer ou não fosse a arte urbana uma arte efémera. Mas agora, ao contrário de há 40 anos, as possibilidades de prolongá-las são maiores.

"A continuidade da rua para o mundo virtual e para as plataformas virtuais dá um corte à efemeridade. Os trabalhos desaparecem e o registo virtual permite a sua continuidade", lembrou Miguel Januário.

Não fosse a internet e as redes sociais e não seria possível ter-se acesso a uma das suas últimas ações. Recentemente, Miguel Januário deixou na porta do Ministério das Finanças, em Lisboa, uma boia em que se podia ler "Orgulhosamente S.O.S."

"Aquilo foi uma ação que durou uns dez minutos, o tempo que a boia durou ali, se não fosse o vídeo e a plataforma que perpetuasse a ação, ela nunca iria funcionar", contou.

Também Adres já fez ações que não implicaram pinturas. Em fevereiro de 2012, deixou, nas escadarias da Assembleia da República, 230 sacos azuis, um por cada deputado. Com estas ações, "com um teor mais performativo", consegue-se "contornar a nova lei" dos graffiti, passando na mesma uma mensagem.

Para estes dois artistas, Portugal está a voltar um pouco a "sentir o cheiro" do que se passou há 40 anos.

"Ainda no ano passado, saiu uma lei bastante delatora e repressiva em relação ao que é feito na rua. Isso é um bocadinho para calar as pessoas, porque a rua é o fórum da sociedade", disse Miguel Januário.

Para Adres, a liberdade que o 25 de Abril deu aos portugueses está a ser-lhes retirada de uma forma muito mais subliminar, aos poucos, mas que acaba por ser uma repressão.

"Para a sociedade em geral parece perfeito que alguém que venha para a rua com uma lata na mão seja criminalizado. As pessoas esquecem-se é de que quem faz talvez tenha uma razão para fazer isso, defender os pais que estão em casa ou uma sociedade inteira", sustentou, acrescentando, ainda assim, que "as pessoas hão de dar por falta destas liberdades".

Em setembro de 2013, entrou em vigor uma lei que regula a realização de 'graffiti', definindo que "compete às câmaras municipais licenciar a inscrição de grafitos, a picotagem ou a afixação, em locais previamente identificados pelo requerente".

A proposta de lei foi votada favoravelmente em julho, na Assembleia da República, pelos deputados da maioria PSD/CDS-PP.

A lei prevê que as coimas para os infratores possam variar entre os 100 e os 25 mil euros, ficando o infrator ainda sujeito a ter de suportar todos os custos de remoção de 'graffiti'.

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Lusa/fim

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