Covid-19: Autoridades taiwanesas detetaram primeiro caso oriundo da Europa em janeiro

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Porto Canal com Lusa

Pequim, 31 mar 2020 (Lusa) - As autoridades de Taiwan revelaram hoje à Lusa terem informado o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, no final de janeiro, sobre uma mulher que testou positivo para a Covid-19 depois de regressar da Europa.

Trata-se de uma guia turística residente em Taiwan, que acompanhou, entre 16 e 25 de janeiro, um grupo de turistas oriundos de Wuhan, o epicentro do novo coronavírus, numa visita a vários países europeus.

Numa entrevista por escrito à agência Lusa, o Centro de Comando Central da Epidemia (CECC, na sigla em inglês) de Taiwan revelou que o caso de infeção referido foi o quarto detetado pelas autoridades da ilha, em 27 de janeiro passado.

A mulher apresentou sintomas como tosse no regresso, a partir de Cantão, cidade no sul da China, onde fez escala no regresso da Europa, pelo que foi submetida a um exame médico no aeroporto.

"Considerando que a paciente tinha visitado vários países europeus, nós informámos, não apenas a Organização Mundial da Saúde sobre o quarto caso, como também o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças", apontou a CECC.

A mesma fonte explicou à Lusa como agiu semanas antes de as autoridades em Pequim reconhecerem a existência de um surto ou que a doença era infecciosa entre seres humanos.

"Em 31 de dezembro passado, no mesmo dia em que foram noticiados os primeiros casos de uma pneumonia viral em Wuhan, começámos a realizar exames médicos a todos os passageiros que chegavam da cidade", contou.

"A partir de 05 de janeiro, os hospitais em todo o país foram ordenados a relatar e testar qualquer caso de pneumonia por causas desconhecidas", detalhou.

As revelações ajudam a explicar o contraste entre vários países asiáticos, que apesar da proximidade com a China contiveram o surto logo no estágio inicial, e a Europa, que é agora o epicentro da pandemia do novo coronavírus.

Com cerca de 23 milhões de habitantes, entre os quais mais de um milhão a viver e a trabalhar na República Popular da China, Taiwan contabiliza apenas 306 casos de infeção pela Covid-19, a grande maioria importados do exterior.

Com cerca de 11 milhões de habitantes, Wuhan foi colocada em 23 de janeiro sob quarentena, com entradas e saídas interditas, mais de três semanas depois de, num curto despacho publicado pela agência noticiosa oficial Xinhua, terem sido, pela primeira vez, noticiados casos de pneumonia viral na cidade.

Citando a Comissão de Saúde local, a Xinhua escreveu que os pacientes tinham todos ligações a um mercado de marisco situado nos subúrbios de Wuhan. Na altura, as autoridades afastaram a possibilidade de contágio humano, e apontaram para uma nova "doença misteriosa", que se acabaria por alastrar por todo o mundo, causando, até à data, mais de 36 mil mortos.

Enquanto os países asiáticos optaram por proibir a entrada nos seus territórios a quem tinha estado na China ou nas províncias chinesas de Hubei, Guangdong ou Zhejiang - as mais afetadas pelo surto -, nos 14 dias anteriores, e passaram a medir a temperatura corporal nos aeroportos ou estações de comboios, viajantes oriundos da China continuaram a relatar que voavam e entravam na Europa sem serem submetidos a medidas de rastreamento.

Vários portugueses que estiveram em Wuhan e regressaram a Portugal nas semanas anteriores à cidade chinesa ter sido colocada em quarentena revelaram também à Lusa nunca terem sido contactados pelas autoridades.

Hoje, países que fazem fronteira com a China, como o Vietname ou a Mongólia têm 204 e 12 casos, respetivamente. No conjunto, o continente europeu regista mais de 413 mil infetados e mais de 26.500 mortos.

A resposta de Taiwan ao surto tem servido para afirmar a ilha, que funciona como uma entidade política soberana apesar da oposição de Pequim, como um dos Estados que melhor preveniu a doença, constituindo também um embaraço para a Organização Mundial da Saúde (OMS), que recusa atribuir estatuto de membro a Taipé.

Na semana passada, Taipé acusou mesmo a OMS de pôr em risco a população de Taiwan, ao ignorar as questões colocadas pelo território no início do surto, devido à pressão exercida pela República Popular da China para impedir a ilha de participar em organismos internacionais.

China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas.

Taiwan tornou-se, entretanto, numa democracia com uma forte sociedade civil, mas Pequim considera a ilha parte do seu território e ameaça a reunificação pela força.

O CECC revelou ter escrito à OMS, em 31 de dezembro, a pedir informações sobre a nova doença, incluindo se era transmissível entre seres humanos.

"Perguntámos se havia possibilidade de transmissão entre seres humanos. Perguntamos e reforçamos a importância desse ponto", explicou, acrescentando que a OMS confirmou ter recebido a carta, mas não respondeu.

Para além das medidas preventivas adotadas nos aeroportos, Taiwan ativou o Centro de Operações de Emergência, em 02 de janeiro.

Taiwan enviou então especialistas para Wuhan, mas estes não obtiveram permissão para estar com pacientes ou ir ao mercado onde o vírus alegadamente teve origem.

A viagem fez com que as autoridades de Taiwan percebessem que tinham que agir rapidamente, explicou o CECC.

As autoridades explicaram como recorreram então ao uso de Inteligência Artificial e 'big data' [análise de dados maciça], para identificação e colocação em quarentena de casos suspeitos ou alertas em tempo real durante visitas clínicas, com base no historial de viagem e nos sintomas dos pacientes.

Taipé apelou também à população para que partilhasse 'online' o histórico de viagens e os sintomas de saúde, visando atribuir um nível de risco infeccioso com base no percurso dos últimos 14 dias - o período máximo de encubação da doença.

Pessoas que não viajaram para áreas consideradas de alto risco receberam uma declaração de saúde via SMS, permitindo uma passagem mais rápida nos controlos fronteiriços. Quem tinha estado em regiões tidas como de risco foi submetido a quarentena em casa, explicou o CECC.

A prontidão de Taiwan é também resultado dos danos causados pelo surto da pneumonia atípica, ou síndrome respiratória aguda grave (SARS), que entre 2002 e 2003 fizeram 73 mortos no território.

"A crise da SARS levou-nos a aprimorar a governação nesta matéria, através da aprovação de leis de prevenção e controlo de epidemias, estrutura organizacional, protocolo para vigilância de epidemias ou medidas de rastreamento na fronteira e reserva de equipamentos médicos", apontou o CECC.

JPI // EL

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