Covid-19: Associação do Porto de apoio a sem-abrigo admite furar bloqueio do Governo
Porto Canal com Lusa
Porto, 16 mar 2020 (Lusa) - O Centro de Apoio aos Sem-Abrigo (CASA) do Porto admitiu hoje à Lusa manter a distribuição de refeições se o Governo impuser o recolher obrigatório devido à Covid-19, situação que também preocupa a Legião da Boa Vontade (LBV).
Natália Coutinho, coordenadora do CASA do Porto, reconheceu essa preocupação face aos desenvolvimentos ocorridos devido ao surto do coronavírus, mas afastou a possibilidade de os sem-abrigo da cidade serem abandonados.
"Estamos preocupados com a possibilidade dessa limitação, mas a menos que se arranje uma solução alternativa vamos ter de furar o bloqueio e continuar a fazer o que estamos a fazer", afirmou a responsável.
E prosseguiu: "há razões de força maior que nos levam a sair de casa e essas razões mantêm-se, portanto, não acredito que aos voluntários que estão escalados e mantiveram a participação seja esse recolher que os vai manter em casa".
Segundo Natália Coutinho, dos dois restaurantes solidários em que distribuíam refeições no Porto "a cerca de 250 sem-abrigo" apenas está a funcionar atualmente um "nas antigas instalações do hospital Joaquim Urbano, o que implicou que os jantares disponibilizados tenham caído para 150".
"Esta redução deve-se ao facto de não termos voluntários suficientes", explicou de um êxodo que também afetou os "grupos de rua que à terça-feira, sexta-feira e domingo distribuem refeições", calculando que "a redução dos voluntários tenha ultrapassado a metade dos 400 que estavam ativos".
Orlanda Silva, assessora de ação social da Legião da Boa Vontade, partilha das preocupações relacionadas com a espiral de combate ao coronavírus.
"Vamos ter uma ronda extraordinária amanhã [terça-feira], porque não sabendo quais vão ser as indicações do Governo no sentido de uma quarentena obrigatória queremos, com voluntários e colaboradores da instituição, tentar mitigar ao máximo os efeitos deste surto junto de uma população tão carenciada como são os sem-abrigo", contou à Lusa.
E acrescentou: "Estamos na linha da frente e vamos fazer tudo o que está ao nosso alcance, mas à margem da lei não conseguimos atuar".
A LBV, segundo Orlanda Silva, contava "com 100 voluntários, mas o número baixou para cerca de metade desde a última semana, sendo que a ronda da caridade, que normalmente acontece às sextas-feiras e sábados, envolve cerca de 80 pessoas por mês", situação que vai obrigar a instituição a "redefinições".
Portugal registou hoje a primeira morte, anunciou a ministra da Saúde, Marta Temido.
Trata-se de um homem de 80 anos, com "várias patologias associadas" que estava internado há vários dias no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, disse a ministra, que transmitiu as condolências à família e amigos.
Há 331 pessoas infetadas até hoje, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS).
Dos casos confirmados, 192 estão a recuperar em casa e 139 estão internados, 18 dos quais em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI).
O boletim da DGS assinala 2.908 casos suspeitos até hoje, dos quais 374 aguardavam resultado laboratorial.
Das pessoas infetadas em Portugal, três recuperaram.
De acordo com o boletim, há 4.592 contactos em vigilância pelas autoridades de saúde.
Atualmente, há 18 cadeias de transmissão ativas em Portugal, mais quatro do que no domingo.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, convocou uma reunião do Conselho de Estado para quarta-feira, para discutir a eventual decisão de decretar o estado de emergência.
Portugal está em estado de alerta desde sexta-feira, e o Governo colocou os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança em prontidão.
Entre as medidas para conter a pandemia, o Governo suspendeu as atividades letivas presenciais em todas as escolas a partir de hoje, e impôs restrições em estabelecimentos comerciais e transportes, entre outras.
O Governo também anunciou hoje o controlo de fronteiras terrestres com Espanha, passando a existir nove pontos de passagem e exclusivamente destinados para transporte de mercadorias e trabalhadores que tenham que se deslocar por razões profissionais.
JFO // MSP
Lusa/fim