Covid-19: China usa teorias da conspiração para sugerir que vírus não começou no país

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Porto Canal com Lusa

Pequim, 13 mar 2020 (Lusa) - A China registou mais de 80.000 infetados pelo novo coronavírus, mas as autoridades do país recorrem agora a teorias da conspiração para defenderem que o vírus não teve necessariamente origem no país.

O regime comunista, que é acusado de ter escondido informação crucial durante as primeiras semanas após a doença ser detetada em Wuhan, epicentro do Covid-19, passou a referir a possibilidade de o vírus ter origem no exterior, apesar da ausência de evidências.

"As forças armadas dos EUA podem ter levado a epidemia para Wuhan", defendeu hoje o porta-voz da diplomacia chinesa Zhao Lijian, através da rede social Twitter, que está bloqueada na China. "Os Estados Unidos devem-nos uma explicação", assegurou.

Para apoiar as suas suspeitas, Zhao citou dois artigos da Global Research, um portal conhecido pelas suas teorias da conspiração.

No entanto, Pequim designou, no início do ano, um mercado de marisco situado nos subúrbios de Wuhan como o berço da epidemia, apontando que o vírus tinha sido transmitido inicialmente através de uma espécie animal.

"Identificamos os animais vivos vendidos no mercado de marisco como a fonte do vírus", defendeu então o chefe do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças Gao Fu, no final de janeiro, depois de Wuhan ter sido colocado em quarentena, com entras e saídas bloqueadas.

O vírus responsável pela doença Covid-19 "era desconhecido antes da epidemia que começou em Wuhan, em dezembro de 2019", apontou a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Países geograficamente próximos da China, como o Vietname, Taiwan ou Mongólia, que depois de a doença ser conhecida barraram a entrada a quem tivesse estado no país 14 dias antes, registam hoje menos casos que Portugal ou qualquer país europeu.

Análises genéticas de amostras do novo coronavírus em vários países revelam uma fonte comum na China, apontou Christl Donnelly, professor de epidemiologia estatística do Imperial College de Londres.

"Não se trata de atirar pedras a um país em particular", enfatizou.

Para o investigador Yun Jiang, da Universidade Nacional da Austrália, "ao semear dúvidas na mente das pessoas sobre a origem do vírus, Pequim procura escapar à responsabilidade pela epidemia".

Médicos chineses em Wuhan alertaram desde dezembro para os perigos do surto de um novo coronavírus, mas foram silenciados pelas autoridades, que os obrigaram a assumir publicamente esses avisos como "rumores infundados".

"As informações falsas divulgadas por departamentos relevantes [de que a doença era controlável e não era infeciosa entre seres humanos] deixaram centenas de médicos e enfermeiros no escuro, que fizeram tudo ao seu alcance para tratarem pacientes sem conhecerem a doença", apontou o chefe de um dos departamentos do Hospital Central de Wuhan, citado pela revista Caixin, uma das raras publicações independentes na China.

"E mesmo aqueles que adoeceram não puderam denunciar. Não puderam alertar os seus colegas e o público a tempo, apesar do sacrifício", disse. "Essa é a perda e a lição mais dolorosas".

Entretanto declarado pela OMS como uma pandemia mundial, a epidemia provocou forte descontentamento popular na China, com as redes sociais do país a encherem-se críticas diretas ao regime e apelos por liberdade de expressão, num fenómeno inédito no país asiático, onde ativistas ou dissidentes são frequentemente condenados por "perturbação da ordem pública" ou "subversão do poder do Estado".

Comentários da diplomacia chinesa acusaram Washington e a imprensa estrangeira de usar o termo "vírus chinês" para "implicar uma origem sem fundamento ou qualquer evidência".

"Certos meios de comunicação claramente querem colocar o chapéu na China", disse Zhao Lijian, em 4 de março.

Segundo certas teorias que circulam nas redes sociais chinesas, a delegação norte-americana que participou nos Jogos Mundiais Militares, disputada em outubro passado, em Wuhan, poderia ter trazido o vírus para a China.

Teorias semelhantes estão a florescer nas redes sociais chinesas.

"Os norte-americanos usaram as pessoas do mundo como ratos de laboratório para experiências de bioquímica viral?", pergunta um internauta no Weibo, rede social chinesa.

Em Washington, o conselheiro de segurança nacional Robert O'Brien acusou a China na quarta-feira de "despedaçar o mundo em dois meses".

Pequim considerou as observações "imorais e altamente irresponsáveis".

JPI // FPA

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