Covid-19: Timor-Leste avança nos preparativos que mostram fraquezas do sistema de saúde

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Porto Canal com Lusa

Díli, 11 mar 2020 (Lusa) -- No portão do acesso às enfermarias do Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV), em Díli, Mary Christavaria estava hoje, de megafone na mão, a dar recomendações aos visitantes sobre o risco do novo coronavírus.

"Lavem bem as mãos, mantenham distância. Tomem precauções", dizia, enquanto ao seu lado funcionários deitavam desinfetante nas mãos de quem entrava e saía.

"Estamos a fazer alguns preparativos, tanto em termos de recursos humanos como de infraestruturas", explicou à Lusa o diretor-geral do HNGV, Aniceto Cardoso Barreto, referindo o apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS) na "formação mais intensiva para preparar os funcionários".

Igualmente em preparação está uma melhoria da triagem, ainda que Aniceto Barreto admita as limitações do hospital, nomeadamente a nível de cuidados intensivos.

"Temos que estabelecer outro local, o que esperamos que ocorra em breve no bairro Formosa, porque aqui só temos seis camas na Unidade de Cuidados Intensivos [UCI], que estão sempre ocupadas", afirmou, pelo que futuros casos terão de ir para outro local.

Ainda que Timor-Leste esteja para já livre de Covid-19 -- há um caso suspeito cujos resultados devem ser conhecidos quinta-feira -- a epidemia está a mostrar as fraquezas e debilidades do sistema de saúde do país.

Houve melhorias nos últimos anos, mas continua a haver infraestruturas e quadros técnicos insuficientes, falta de condições mínimas de atendimento em muitos locais, escassez de ventiladores ou outro material de cuidados intensivos e, até, às vezes, falta de material de proteção pessoal e de medicamentos.

Soma-se o atual contexto de crise política -- o Governo está demissionário há mais de duas semanas -- problemas no próprio Ministério da Saúde e falta de fundos devido ao regime duodecimal que vigora desde janeiro no país.

Até ao momento não há locais de isolamento ou de quarentena totalmente preparados e o laboratório nacional, que já recebeu 'kits' de teste, só dentro de duas semanas estará apto a realizar análises ao Covid-19, que têm agora de ser feitos em Darwin, na Austrália.

O embaixador da Austrália em Díli, Peter Roberts, disse à Lusa que o país está a trabalhar com Timor-Leste para fortalecer as capacidades do laboratório -- equipamento, planeamento, desenho e melhorias --, mas que o processo ainda demorará algum tempo.

A situação agrava-se pela demora na aplicação de medidas, por problemas com as comunidades locais onde os centros estavam previstos e por carências de implementação.

O ex-primeiro-ministro e ex-titular da Saúde, Rui Maria de Araújo, disse à Lusa que os problemas se devem "à falta de capacidade de liderar e alguma falta de sensação de urgência" na forma como se está a responder ao risco do surto.

"Creio que há mais falta de capacidade de liderar e alguma falta de sensação de urgência nas coisas. Houve-se por todo o mundo, que em casos desses antecipar, antecipar, antecipar é o mais importante. Falta um pouco disso aqui em Timor", afirmou.

"Para agravar tudo isso, temos este impasse político. As pessoas parecem mais preocupadas com a política do que com a ameaça real de um surto epidémico no país", referiu.

Ainda assim, Araújo recorda que apesar das limitações, Timor-Leste tem já memória institucional e até experiências acumuladas a lidar com surtos como este - como foi aquando da gripe aviária ou da epidemia de SARS -, que devem ser utilizadas.

"Temos um centro de emergência que não está a ser mobilizado e atualizado", afirmou, considerando haver falta de eficácia "no componente de educação e disseminação de informação" precisa e baseada em factos.

"Há o risco de se pensar que é a doença do 'estrangeiro'. É preciso educar as pessoas", disse, considerando que "a falta de liderança e vontade política" está a atrasar a instalação dos centros de isolamento e quarentena.

"A estratégia mais importante é de contenção e nesta fase em que não temos casos, o mais importante é antecipar e conter. Isso significa que população deve estar muito bem informada e o MS [Ministério da Saúde] tem de ter meios para fazer isso, organizar-se melhor para fazer isso", acrescentou.

E, além disso, considerou que é preciso "mobilizar outra vez as pessoas que já tiveram formação no passado para responder a este tipo de surtos", dando como exemplo os funcionários formados para lidar com a epidemia de SARS.

Médicos com ampla experiência em Timor-Leste, ouvidos pela Lusa, admitem os problemas, especialmente as carências nos cuidados intensivos que, pela amostra de outros países, são necessários para entre 10 e 15% dos casos de Covid-19, os mais críticos.

"O Governo podia investir mais. Tem havido uma falta de investimento", referiu uma médica ouvida pela Lusa, que aponta a falta de equipamento adequado e médicos especializados.

"O sistema já tem dificuldades em lidar com os casos do dia a dia, por isso, de facto, não terá capacidade para lidar com situações destas", admitiu outra médica, destacando a necessidade de fortalecer a capacidade de triagem hospitalar e prevenção de infeção.

O ex-Presidente e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, José Ramos-Horta, que tem estado recentemente envolvido nos esforços de divulgar informação sobre o surto, notou o esforço do Ministério da Saúde para criar as infraestruturas necessárias, como o centro de isolamento e quarentena, mas notou que "se houver uma explosão de epidemia em Timor-Leste, as condições atuais não são suficientes".

Motivo pelo qual, disse, "o Governo deve pedir apoio internacional adicional para fortalecer as condições existentes" e, ao mesmo tempo garantir que "as decisões políticas assentes nas recomendações do Ministério da Saúde e OMS são apoiadas por todos os setores do Governo".

E deixou recados sobre a situação geral: "Timor-Leste sendo um país vulnerável e frágil em geral e em particular na área da saúde já devia ao longo de anos investido num hospital moderno de nível regional com especializações precisamente em doenças infetocontagiosas porque são doenças muito frequentes no país".

"Espero que o Governo no futuro aprenda com esta urgência e invista seriamente na saúde", concluiu.

 

ASP // JMC

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