25 Abril: Lisboa, uma cidade com poucas marcas da Revolução

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Porto Canal / Agências

Lisboa, 24 mar (Lusa) - Lisboa tem poucas marcas que contem a história da revolução de 25 de Abril de 1974, mas essa falta de memória não é um exclusivo de Portugal nem apenas responsabilidade dos governos, defende a historiadora Maria Inácia Rezola.

Quem caminha hoje, 40 anos depois do golpe, pelas ruas da capital tem poucas pistas sobre os movimentos militares que a percorreram naquela madrugada, para fazer cair, em menos de 24 horas, uma ditadura de quase meio século.

Não há, por exemplo, eco da memória da segunda senha -- a que pôs os capitães na rua --, transmitida nessa madrugada, cerca das 00:20, pela Rádio Renascença. Quem passa hoje na rua Ivens não sabe -- não fica a saber -- da primeira quadra da canção Grândola, Vila Morena, de José Afonso, dita por Leite de Vasconcelos, nem da música depois das palavras.

"É a partir daqui [da segunda senha] que o processo é irreversível", explicou à agência Lusa a historiadora Maria Inácia Rezola, investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.

Não há também sombra dos movimentos desse dia no Terreiro do Paço de hoje. Quem passa não sabe -- não fica a saber -- que ele foi palco do primeiro confronto entre os revoltosos e as forças do regime, que é a partir do Ministério do Exército que o regime tenta organizar a ofensiva para conter as forças sublevadas (e de onde fogem os ministros do Exército e da Marinha, por um buraco, aberto à picareta, numa parede que dava para o Ministério da Marinha), ou que este espaço esteve na mira da Fragata Gago Coutinho.

Apenas no largo do Carmo -- "o ex-líbris do dia 25 de Abril" -- há, ainda que poucos, alguns apontamentos que nos remetem para o fim da ditadura. No chão há uma homenagem da Câmara de Lisboa a Salgueiro Maia, o capitão que negociou a rendição do presidente do conselho, Marcello Caetano, e na parede do Quartel da GNR pode ler-se o poema "25 de Abril" de Sophia de Mello Breyner Andresen.

Existe também o Quartel, "que será sempre associado a esse momento da queda do regime", lembra a historiadora e autora do livro "25 de Abril - Mitos de uma Revolução".

Maria Inácia Rezola considera que "a ausência de marcas históricas das cidades não é um exclusivo de Lisboa ou de Portugal, nem uma realidade exclusiva da população portuguesa".

O que se passa aqui com a memória desse dia, diz, não é diferente do que se passa noutras capitais. E cita o historiador Eric Hobsbawm para explicar: "Os mais jovens, diz este autor, vivem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação com o seu passado".

Esta "amnésia" não é, acrescenta, "exclusiva dos jovens, percorre vários extratos da sociedade".

No entanto, ressalva, "dizer que Lisboa é uma cidade sem história é excessivo". A história está "a cada esquina da cidade, de diferentes formas, com diferentes símbolos".

"Podiam ser feitas mais coisas a esse respeito? Sem dúvida. Mas importa dizer que se o poder, as entidades oficiais, têm responsabilidades a esse respeito, cabe também um papel importante à Universidade, enquanto transmissora de conhecimento, e tendo um papel importante na preservação da memória e esse papel nem sempre é suficientemente enfatizado e cumprido", conclui.

JYF // ZO

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