Defesa de jornalista Glenn Greenwald vê denúncia como"instrumento de disputa política"

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Porto Canal com Lusa

Brasília, 21 jan 2020 (Lusa) - A defesa do jornalista norte-americano Glenn Greenwald, responsável pela investigação jornalística conhecida como 'Vaza Jato', recebeu hoje com "perplexidade" a denúncia do Ministério Público brasileiro, que classificou de "instrumento de disputa política".

"Recebemos com perplexidade a informação de que há uma denúncia contra o jornalista Glenn Grenwald, cofundador do 'The Intercept'. Trata-se de um expediente tosco que visa desrespeitar a autoridade da medida cautelar concedida, (...) do Supremo Tribunal Federal, para além de ferir a liberdade de imprensa e servir como instrumento de disputa política", declarou a defedesa de Greenwald num comunicado enviado ao portal de notícias G1.

Os advogados do jornalista norte-americano, Rafael Borges e Rafael Fagundes, indicaram ainda que estão a preparar uma resposta judicial.

"O objetivo [da denúncia] é depreciar o trabalho jornalístico de divulgação de mensagens realizado pelo 'The Intercept' Brasil em parceria com outros veículos dos media nacionais e estrangeiros. Os advogados de Grenwald preparam a medida judicial cabível e pedirão que a Associação Brasileira de Imprensa (...) cerre fileiras em defesa do jornalista agredido", concluiu a defesa.

O Ministério Público Federal (MPF) do Brasil denunciou hoje sete pessoas, incluindo o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, num inquérito sobre invasão de telemóveis de autoridades.

Contudo, Greenwald está a ser indiciado, mesmo sem ser investigado ou indiciado.

"O jornalista Glenn Greenwald também foi denunciado, embora não investigado nem indiciado. Para o MPF, ficou comprovado que ele auxiliou, incentivou e orientou o grupo durante o período das invasões", diz o órgão.

A denúncia foi assinada pelo procurador Wellington Divino de Oliveira, que alegou ter encontrado indícios de que o grupo formou uma organização que executou crimes cibernéticos por meio de fraudes bancárias, invasão de dispositivos informáticos e branqueamento de capitais.

O MPF brasileiro alegou que os acusados Walter Delgatti Netto e Thiago Eliezer Martins Santos teriam atuado como mentores e líderes do grupo criminoso.

Já outros suspeitos, Gustavo Henrique Elias Santos, Luiz Molição e Suelen Oliveira, terão auxiliado os líderes a executar os crimes.

O órgão de Justiça brasileiro justificou que Greenwald não era alvo das investigações, mas, durante a análise de um computador portátil apreendido, foi encontrado um áudio de um diálogo entre ele e o suspeito Luiz Molição que comprovaria o seu envolvimento no crime.

"Molição deixa claro que as invasões e a monotorização das comunicações telefónicas ainda eram realizadas e pede orientações ao jornalista sobre a possibilidade de 'baixar' [transferir] o conteúdo de contas do Telegram de outras pessoas antes da publicação das matérias pelo 'site' The Intercept", diz o MPF.

Segundo o autor da denúncia, Greenwald teria indicado que o grupo criminoso deveria apagar as mensagens que já tinham sido repassadas para o jornalista de forma a não os ligar ao material ilícito, "caracterizando clara conduta de participação auxiliar no delito, buscando subverter a ideia de proteção a fonte jornalística numa imunidade para orientação de criminosos".

Para o procurador que realizou a denúncia, Greenwald recebeu o material de origem ilícita, enquanto a organização criminosa ainda praticava os crimes.

Num diálogo entre Greenwald e Molição, partilhado hoje pela imprensa brasileira, o jornalista diz que não apagará as mensagens, como prova de que só foi abordado pelos alegados piratas cibernéticos depois do material ter sido por eles recolhido.

"Com certeza que vão tentar acusar-nos de participar no 'hack'. Eles vão tentar acusar que nós fazemos parte dessa tentativa de 'hackear'. Eles vão com certeza acusar. Então para mim, mantendo as conversas, são as provas que você só falou connosco depois que você tinha tudo. Isso é muito importante para nós como jornalistas, para mostrar que nossa fonte só falou connosco depois que já tinha tudo", disse alegadamente Greenwald a Molição.

No seguimento da conversa, o jornalista diz que não "pode pôr em risco" que descubram a identidade da sua fonte, mas que cabe aos alegados piratas cibernéticos decidirem se apagarão as mensagens.

"Então, para nós, não podemos apagar todas as conversas porque precisamos manter, mas vamos ter uma cópia num lugar muito seguro, se precisarmos. (...) Eu acho que não tem nenhum propósito, nenhum motivo para vocês manter nada, entendeu? (...) Mas isso é escolha sua, mas estou falando e, isso não vai prejudicar nada do que estamos a fazer, se você apagar", acrescentou o norte-americano.

A divulgação de mensagens de autoridades do Brasil está ligada às investigações da polícia sobre invasão de telemóveis de atuais membros e ex-integrantes da Operação Lava Jato.

O ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, e membros do grupo de trabalho da Lava Jato estão envolvidos num escândalo, conhecido como "Vaza Jato", que começou em 09 de junho de 2019, quando o The Intercept Brasil e outros 'media' parceiros começaram a divulgar reportagens que colocam em causa a imparcialidade da maior Operação contra a corrupção no país.

Baseadas em informações obtidas de uma fonte não identificada, estas reportagens apontam que Moro terá orientado os procuradores da Lava Jato, indicado linhas de investigação e adiantado decisões enquanto era juiz responsável por analisar os processos do caso em primeira instância.

MYMM (CYR) // JH

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