Reino Unido/Eleições: Escócia tornou-se "eleitoralmente competitiva"
Porto Canal com Lusa
Edimburgo, Reino Unido, 05 dez 2019 (Lusa) -- O politólogo britânico Michael Keating defendeu hoje que a relevância da Escócia para as eleições de 12 de dezembro deriva em parte de se ter tornado "eleitoralmente competitiva", com uma maioria de círculos eleitorais que podem mudar de cor.
"Pela primeira vez a Escócia é eleitoralmente competitiva. Entre as eleições de 2005 e 2010, nenhum assento na Escócia mudou de mãos. Nem um. Desde então, todos já mudaram de mãos exceto Orkney and Shetland. É altamente volátil", disse o professor de ciência política na Universidade de Edimburgo e na Universidade de Aberdeen, em entrevista à agência Lusa.
A grande maioria dos círculos eleitorais mudou para o Partido Nacionalista Escocês (SNP, na sigla em inglês) em 2015, mas muitos voltaram a mudar para os Conservadores, os Trabalhistas e os Liberais-Democratas em 2017.
"É alta intensidade para a competição partidária", defendeu Michael Keating, recordando que desde 2010 há assentos que já foram de três partidos diferentes, o SNP, o Partido Conservador e os Liberais-Democratas.
No Reino Unido, cada um dos círculos eleitorais elege apenas um deputado, que é o candidato mais votado naquele círculo, pelo que cada círculo eleitoral conta, especialmente nas eleições de dia 12 de dezembro, em que o primeiro-ministro Conservador Boris Johnson quer garantir uma maioria absoluta que lhe permita avançar com a saída britânica da União Europeia.
A volatilidade apontada por Keating resulta também do facto de não estar em causa a tradicional divisão por partidos, mas sim duas questões constitucionais que dividem os escoceses: o 'Brexit' e a independência da Escócia.
A Escócia votou em 2014 para ficar no Reino Unido com 55% dos votos e em 2016 votou para ficar no Reino Unido com 62%, mas os eleitores não coincidem em ambas as questões: "cerca de 30% das pessoas que votaram para sair do Reino Unido também votaram para sair da União Europeia, apesar de o SNP defender o contrário", recordou o especialista, que dirige o Centro para a Mudança Constitucional.
"Se pusermos estes dois votos numa tabela, com o sim e o não à independência, o sair e o ficar na UE, temos quatro caixas e nenhuma delas tem a maioria. Não há uma maioria em nenhuma das combinações", disse.
Como os Nacionalistas do SNP entretanto defendem o fim do 'Brexit', perderam muitos dos seus eleitores que tinham votado para sair, que agora preferem o Partido Conservador, apesar de também defenderem a independência.
"Isto explica por que motivo os 'Tories' parecem estar relativamente bem [nas sondagens na Escócia]", disse Keating, estimando que os Conservadores reúnam cerca de 25% dos eleitores, aqueles que votaram 'não' à independência e 'sim' ao 'Brexit'.
Noutro dos quadrados da tabela há cerca de 50% que votaram 'sim' à independência e para ficar na União Europeia, que deverão votar SNP, e há uma outra parte da população que está indecisa.
Por outro lado, lembrou o politólogo, os eleitores na Escócia sempre recorreram ao voto útil: "Dos anos 1970 até aos anos 2000, os eleitores Trabalhistas no norte da Escócia muitas vezes votavam nos Nacionalistas para manter fora os Conservadores", exemplificou.
"Agora é ao contrário, os unionistas votam nos Conservadores para impedir os Nacionalistas. As pessoas na Escócia estão habituadas a fazer isso, e são bastante boas nisso", disse, explicando que tudo isto torna difícil antecipar os resultados.
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