A morte por excesso de trabalho fica em cena na sala Estúdio do Teatro D. Maria II

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Porto Canal com Lusa

Lisboa, 14 nov 2019 (Lusa) - Um lugar "asseado", sem "baratas, ácaros ou pó", é o espaço cénico de "Karoshi", uma criação do Teatro da Cidade que hoje sobe ao palco da sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.

A palavra japonesa "Karoshi" significa "morte por excesso de trabalho" e dá título à peça, na qual o Teatro da Cidade se centrou para explorar os limites do ser humano face ao trabalho, nos dias de hoje, ao mesmo tempo que problematizou conceitos que balizam o quotidiano, explicou a equipa à imprensa, no final de um ensaio.

"O tempo é a maior fortuna" e "Temos de o dignificar" são frases que se ouvem durante o espetáculo, ao longo do qual uma personagem - que viremos mais tarde a saber chamar-se Bob -- se mantém quase sempre sentada e inclinada sobre uma secretária, de costas para o público.

Os nossos dias são o trabalho e o local de trabalho é o mundo inteiro, embora sejam expressões não referidas, ressoam durante a ação, em que as quatro personagens tudo tentam fazer para garantir o bem-estar de si próprias e de Bob, que, à partida, está a trabalhar, sem contudo se preocuparem em saber o que se passa com ele -- se está bem ou não, explicou o ator Guilherme Gomes.

"Hoje em dia, a atenção às doenças mentais devia estar no máximo", sustentou, ao mesmo tempo que sublinhou "o pudor que ainda existe em se falar de depressão e de ansiedade".

Esta criação do Teatro da Cidade estabelece um paralelo entre o direito social ao trabalho, adquirido com o tempo, e as novas formas de escravatura a que os humanos se sujeitam, questionando, em simultâneo, a "dupla condição de quem trabalha enquanto escravo de si próprio e a miragem de um semideus".

Provocar os limites do corpo para se adequar à sociedade em que se vive, ao sistema que, cada vez mais, exige produção rápida e eficiente, vivendo de objetivo em objetivo, com a recompensa, muitas vezes, posta em causa é, pois, o tema fulcral de "Karoshi", "antecedido pelo 'burnout' tão característico da sociedade contemporânea e ainda tão pouco debatido", frisou Bernardo Souto.

Uma sala iluminada toda forrada a alumínio, onde figuram apenas uma pequena janela e um estrado a que se acede através de degraus -- onde num plano ligeiramente superior Bob permanece quase invisível para os outros -- é o espaço cénico da peça.

Apesar de em "Karoshi" não faltar um "limpador", como se autointitula a personagem que garante a assepsia do espaço, esta criação do Teatro da Cidade equaciona a sociedade do século XXI naquilo que de menos humano a caracteriza.

A sociedade "que adormece no metro, nas escadas da estação de comboios, no passeio, até sucumbir completamente", como se lê no programa de sala.

Interpretada por Bernardo Souto, Guilherme Gomes, João Reixa, Nídia Roque e Rita Cabaço, "Karoshi" tem cenografia de Ângela Rocha, desenho de luz de Rui Seabra e é uma coprodução do Teatro Nacional D. Maria II com o Teatro da Cidade.

O espetáculo tem o apoio da GDA -- Gestão dos Direitos dos Artistas, em parceria de residência com o Espaço Alkantara.

"Karoshi" está em cena até 24 de novembro, com espetáculos às quartas-feiras e sábados, às 19:30, às quintas e sextas-feiras, às 21:30, e, aos domingos, às 16:30.

No final do espetáculo de dia 20, haverá uma conversa com os artistas.

CP // MAG

Lusa/fim

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