António Costa diz que proposta finlandesa para orçamento comunitário "não tem pés para andar"

| Economia
Porto Canal com Lusa

Praga, 05 nov 2019 (Lusa) -- O primeiro-ministro, António Costa, defendeu hoje que a proposta da presidência finlandesa para o orçamento comunitário pós-2020 não tem "pés para andar", considerando desejável um rápido consenso para evitar mais "nuvens no horizonte" da União Europeia.

"A proposta finlandesa é inaceitável. A proposta finlandesa não tem pés para andar ou a proposta dos cinco países que defendem o 1% não tem a menor perspetiva para andar. Não vale a pena perder muito tempo com essa discussão. Temos é de nos centrar em como é que entre a proposta da Comissão Europeia e a proposta do Parlamento Europeu construímos uma solução de consenso, que tenha também em conta as preocupações dos países que até gostariam de reduzir a sua contribuição", argumentou o primeiro-ministro, em declarações aos jornalistas portugueses, no final da reunião dos Estados-membros "Amigos da Coesão", em Praga.

A proposta para o Quadro Financeiro Plurianual (QFP) para o período 2021-2027 esboçada pela presidência finlandesa do Conselho da União Europeia (UE) após a primeira ronda de reuniões bilaterais com os Estados-membros apontava para uma eventual redução entre 60 e 70 mil milhões do montante global de 1,279 biliões de euros (preços correntes) previsto pela Comissão Europeia.

Essa redução resultava de uma revisão das contribuições nacionais para o orçamento comunitário para entre 1,03 e 1,08% do Rendimento Nacional Bruto, um valor consideravelmente inferior aos 1,11% propostos pelo executivo comunitário em maio de 2018 e aos 1,3% defendidos pelo Parlamento Europeu (PE).

Na capital checa, o chefe do Governo português voltou a insistir que as contribuições dos Estados-membros deveriam ser fixadas nos 1,16%, de modo a manter "exatamente o nível de contribuição atual, descontado o Reino Unido".

"Em termos nominais, significa mais dinheiro, porque o Rendimento Nacional Bruto aumentou, mas significa que a percentagem de esforço de cada um de nós para a União ficaria exatamente na mesma", notou, vincando que o número proposto por Portugal permitiria "acelerar a aproximação" entre as propostas do executivo comunitário e do PE diminuir a resistência dos países - Alemanha, Áustria, Dinamarca Finlândia e Suécia - que não querem contribuir mais do que atualmente.

Lembrando que enquanto a assembleia europeia não aprovar o próximo QFP, a UE não terá orçamento, António Costa sublinhou a necessidade de um consenso ser encontrado rapidamente e considerou que a proposta portuguesa dá margem "para desbloquear o impasse" nas negociações.

"Há uma realidade que acho que todos têm presente: uma descontinuidade de transição entre dois quadros comunitários será muito negativa para a economia europeia. E já temos muitas nuvens no horizonte", afirmou, identificando o 'Brexit', as ameaças de guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, os riscos de "travagem significativos ou mesmo de recessão do crescimento económico" de economias "fortíssimas", como a Alemanha, ou a instabilidade política em países como Espanha.

Para o primeiro-ministro, um atraso no acordo sobre o orçamento comunitário pós-2020 implicaria não "uma difícil transição" entre os dois quadros, como instalaria incerteza entre os próprios agentes económicos, que começariam a retrair-se nas suas perspetivas de investimento.

"O efeito dessa descontinuidade é antecipado e isso é muito negativo para a dinâmica económica. Já tivemos essa experiência, por exemplo, em Portugal em que correu muito mal a transição do anterior saldo para este saldo. Nunca me esquecerei que no dia em que tomámos posse, tinham chegado ás empresas quatro milhões de euros [...] e isso foi fruto da enorme dificuldade que houve de fazer a transição entre o QREN e o Portugal 2020. Ora, repetir isto é mau", avaliou.

António Costa advogou assim que todos os Estados-membros tem de esforçar-se para chegar a um compromisso "o mais cedo possível, desejavelmente já em dezembro [no próximo Conselho Europeu], pelo menos quanto àquilo que deve ser o esforço contributivo, porque depois há um enorme trabalho a fazer de regulamentação nas diferentes áreas".

AMG // SF

Lusa/Fim

+ notícias: Economia

Com Páscoa à porta, preços do cacau atingem máximos 

O preço do cacau nos mercados internacionais disparou 150% desde o início do ano e tocou pela primeira vez os 10.000 dólares por tonelada, mas há dúvidas que o pico tenha sido atingido, segundo os analistas consultados pela Lusa.

Vai trabalhar no feriado? Pode ter direito a compensação adicional

Na sexta-feira Santa, no dia 29 de março, é comum associar-se à ideia de descanso para muitos. Contudo, quanto à compensação pelo trabalho realizado neste feriado, a resposta não é simples e direta, mas sim variável conforme as circunstâncias individuais.

Bruxelas elogia cortes "permanentes de despesa" anunciados pelo Governo

A Comissão Europeia saudou hoje o facto de as medidas anunciadas pelo primeiro-ministro se basearem em "reduções permanentes de despesa" e destacou a importância de existir um "forte compromisso" do Governo na concretização do programa de ajustamento.