Incêndios: Manta de eucaliptos aviva memória dos dias em que o "diabo andou à solta" em Monção

| Norte
Porto Canal com Lusa

Monção, Viana do Castelo, 13 out 2019 (Lusa) - A 'manta' de eucaliptos que hoje cobre as quatro aldeias de Monção mais afetadas pelos fogos de outubro de 2017 tem avivado na memória os dias em que "o diabo andou à solta" naquele concelho do Alto Minho.

As chamas começaram já a noite do dia 14 de outubro de 2017 tinha começado a cair. Deflagrou nas freguesias vizinhas de Longos Vales e Merufe. Quando chegou à aldeia de Bela saltou o rio Minho e atingiu a Galiza. O incêndio foi dado como extinto no dia 16, mas deixou um rasto de destruição em várias das 24 freguesias de Monção, no distrito de Viana do Castelo.

Longos Vales, Merufe, Barbeita e Bela foram das mais atingidas.

"Foi num ápice. A velocidade era tal, cerca de 30 a 40 quilómetros por hora. Ardia mais pelo ar do que pelo chão. Pensei que ia acabar o mundo, que não nos íamos salvar", disse hoje à Lusa o presidente da Junta de Freguesia de Bela, que viu 95% da sua área da aldeia ser consumida pelo fogo.

Passados dois anos, Luís Cunha disse sentir-se "frustrado e impotente" por ver os cerca de 500 habitantes da aldeia, na maioria idosos, "completamente assustados" com a "invasão de eucaliptos".

"Até ao momento não houve nenhuma intervenção de ordenamento florestal. Onde existiam árvores autóctones neste momento proliferam eucaliptos. Há eucaliptos por todo o lado, até junto aos aglomerados habitacionais", lamentou, temendo a ameaça de "nova tragédia".

Sem recursos para "combater" a espécie, Luís Cunha sublinhou que, "se o terror voltar", dentro de um a dois anos, "será muito pior do que em 2017".

"A freguesia não tem floresta, tem uma manta de eucaliptos. Os proprietários não têm condições para limpar os terrenos. Tenho alertado várias vezes, mas a Câmara de Monção também não tem meios para poder atuar", lamentou.

Em Barbeita, a mesma queixa. O autarca, João Sousa, explicou que "os particulares nada fizeram" pelos terrenos consumidos pelo fogo de há dois anos, que agora são cobertos por "milhares e milhares de eucaliptos", a "acha certa para uma grande fogueira".

"Os eucaliptos nasceram de uma tal forma que hoje a freguesia está infestada de eucaliptos. Está pior do que antes dos incêndios de 2017. É tremendo. Não sei como nasceram tantos", desabafou.

O receio de que o "fim do mundo" volte a assolar a aldeia traz-lhe à memória o pior dia da sua vida.

"Não vou esquecer nunca a sensação de colocar a minha mulher, a filha e os netos na cave da casa e de partir, com o genro e amigos, para tentar travar o diabo que andava solta. Um monstro que devorava tudo por onde passava. Ficámos à sua mercê, cercados por fogo por todos os lados. Mas sobrevivemos", frisou.

Há dois anos, o presidente da Junta de Merufe, Márcio Alves, juntou o executivo e partiu para o terreno para ajudar bombeiros e sapadores.

Na sua aldeia "desapareceram cerca de 1.600 hectares de um total de 3.550 hectares consumidos em todo o concelho de Monção".

A casa de primeira habitação e vários armazéns e cortes destruídos pelo fogo "foram todos reconstruídos", mas "o principal" está por fazer - "a burocracia é um contratempo".

"Temos cerca de um milhão de euros aprovados em candidaturas para fazer reflorestação. A candidatura, que prevê intervir em 320 hectares, ainda está dependente de questões burocráticas e outra, de mais 100 hectares, está a aguardar aprovação", explicou.

Dois anos depois da tragédia, adiantou, "uma das candidaturas já foi adjudicada e deverá começar a ser executada este mês".

Em Longos Vales, Pedro Rodrigues tinha tomado posse da Junta de Freguesia que conquistou nas autárquicas de 2017 na véspera da chegada do fogo e não tinha tido tempo para conhecer os cantos à casa.

"Tinha a Proteção Civil em cima de mim a pedir informações, meios e apoios. Vi-me aflito", admitiu.

Na floresta, "completamente destruída", ainda "decorrem trabalhos de abate dos pinheiros queimados" e os eucaliptos vão ganhando terreno.

"A curto prazo vamos ficar invadidos de eucaliptos", referiu.

Os dias "muito complicados" de outubro de 2017 "nunca mais serão esquecidos" por terem ardido "áreas, dentro da própria aldeia, que não se pensava que pudessem arder".

"Só não ardeu mais porque a população interveio e a entreajuda foi mais forte do que o fogo", destacou.

ABC // ROC

Lusa/fim

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