Moody's considera que maior ameaça à banca virá de grandes empresas tecnológicas

| Economia
Porto Canal com Lusa

Lisboa, 02 out 2019 (Lusa) -- A agência de 'rating' Moody's considera que a nova diretiva sobre serviços de pagamento é negativa para os bancos, ao obrigar à partilha dos dados financeiros com terceiros, e que a maior ameaça virá das grandes empresas tecnológicas.

"A PSD2 [segunda diretiva de pagamentos] exige que todos os bancos da União Europeia permitam aos clientes partilharem dados com terceiros, o que pode levar à desagregação de produtos bancários e à erosão do relacionamento com os clientes", disse Alessandro Roccati, vice-presidente sénior da Moody's, citado em comunicado.

Segundo o responsável, a competição virá de concorrentes digitais, desde as 'fintechs' (pequenas empresas tecnológicas de serviços financeiros) às 'bigtech' (grandes empresas tecnológicas, como Amazon, Facebook, Google ou Apple que também prestam serviços financeiros), considerando que essa partilha de dados vai reduzir "as oportunidades de vendas cruzadas dos bancos", enquanto uma maior rotatividade de depositantes aumentará os custos de financiamento dos bancos e as necessidades de liquidez.

Para já, ainda não houve um movimento significativo e no curto prazo a Moody´s espera que o seu impacto seja limitado, dado que os bancos têm grandes bases de clientes e a confiança criada.

No imediato, considera, a principal mudança são os agregadores de informação financeira, que permitem aos consumidores visualizar todas as suas transações e saldos bancários numa única plataforma, pois "reduzirão a interação dos bancos com seus clientes, limitando as oportunidades de vendas cruzadas".

Já os prestadores de serviços de pagamento, que permitem aos consumidores fazerem pagamentos sem usar os sistemas de pagamento dos bancos, são uma ameaça a médio prazo, considera.

A combinação de ambos é considerada a maior ameaça e virá a longo prazo.

A principal ameaça, refere, deverá vir das 'bigtech', que se tornarão ao mesmo tempo agregadores de informação financeira e prestadores de serviços de pagamento, pois possuem uma base de clientes grande e muito comprometida e análise extensiva dos dados dos clientes.

Com isto, considera a Moody's, haverá desagregação dos serviços financeiros, com perda de receita e mais custos de financiamento.

Na semana passada, numa conferência sobre o futuro da banca, o vice-governador do Banco de Portugal, Máximo dos Santos, considerou que é exagerado o vaticínio sobre o desaparecimento dos bancos face a novos operadores, e que é subestimada a capacidade de adaptação do setor.

Segundo o responsável do regulador e segurador bancário, esses vaticínios subestimam a "capacidade de adaptação do setor, a sua experiência acumulada, o caráter infungível das suas funções e a massa critica que é capaz de mobilizar".

Para fazer face à transformação que o setor está a viver, o que os bancos têm de fazer é inovarem tecnologicamente, enfocarem os seus serviços na relação com o cliente e fazerem parcerias estratégicas com novos operadores do setor financeiro, como as 'fintech', disse, acrescentando que sabe que nada disto é novo para os bancos.

Presentes na mesma conferência, os presidentes dos principais bancos que operam em Portugal consideraram que, apesar da ameaça de novos operadores, os bancos mais tradicionais continuam a ter vantagens, como uma relação "mais emocional" e próxima com os clientes e a extensa informação que têm dos clientes, que podem usar para prestar serviços e oferecer produtos de acordo com as suas necessidades.

"Não acredito que haja alguém melhor posicionado do que os bancos hoje, que já têm relação com o cliente", defendeu Miguel Maya, presidente do BCP, acrescentando que a preocupação dos bancos não são as 'fintech' mas as 'bigtech'.

"Cabe à banca baixar os custos de diversas formas, uma das quais pela tecnologia, para que as pessoas se sintam confiantes a pagar, e o digital é essencial, na recolha e tratamento de dados. É aqui se vai jogar o futuro a banca, de como os dados são recolhidos até como eles são tratados", afirmou, por seu lado, o presidente da CGD, Paulo Macedo.

O responsável pelo banco público considerou ainda que há o risco de ficarem apenas com a parte do negócio mais pesada, como depósitos e crédito de longo prazo, que exigem elevados níveis de capital, enquanto novos operadores ficam com os serviços lucrativos, como serviços de pagamento.

IM // MSF

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