Mário Centeno: "Cargos públicos devem ser exercidos num período limitado de tempo"

| Economia
Porto Canal com Lusa

Lisboa, 27 set 2019 (Lusa) - Mário Centeno defende que os "cargos públicos devem ser exercidos num período limitado", mas recusa a ideia de que esta filosofia queira dizer que o seu tempo nas Finanças já tenha atingido o limite.

Em entrevista à Lusa, o ministro mantém o 'tabu' quanto a uma eventual participação no futuro Governo à frente da pasta das Finanças, mesmo num cenário hipotético de vitória eleitoral do PS e de um convite do primeiro-ministro.

Para o economista, "os convites são uma prerrogativa do senhor primeiro-ministro", e, como tal, "seria inadequado estar a usurpá-la".

Mário Centeno garante mesmo que esta é uma matéria que só será conhecida depois das eleições de 06 de outubro.

LUSA: Porque lhe é tão difícil dizer: "Se o PS ganhar as eleições e o primeiro-ministro me convidar para ministro das Finanças, aceitarei o convite"?

MÁRIO CENTENO: Porque ser ministro das Finanças é um cargo importante que deve ser enquadrado naquilo que é o resultado de umas eleições, na constituição de um governo e numa perspetiva intertemporal que honestamente só se vai colocar de uma forma decisiva após as eleições.

P: Não tem na sua cabeça a resposta para uma questão lhe pode ser feita daqui a uns dias...

R: Até posso ter vários cenários na minha cabeça...

P: Mas a resposta a esta pergunta em concreto.

R: Essa pergunta tem uma resposta que, no contexto em que ela iria ser dada hoje, tinha interpretações e consequências que estão fora do contexto eleitoral. E é nesse contexto em que hoje nós nos movemos...

P: A utilização do nome Mário Centeno parece ser o maior trunfo eleitoral do primeiro-ministro. Não é legítimo que os eleitores quando forem votar saibam se vão ter Mário Centeno nas Finanças?

R: Devemos sempre ter toda a informação que podemos para tomar as nossas decisões.

O primeiro-ministro já disse que não fez convites, que não faria convites antes dos resultados das eleições e, portanto, seria um pouco uma usurpação, mesmo que eu possa ter essa relevância que referiu, querer-me colocar numa posição que seria de todo ilegítima face à óbvia necessidade de ser o primeiro-ministro que venha a ganhar as eleições a fazer esse convite.

Mas insisto, convites são uma prerrogativa do senhor primeiro-ministro, e seria inadequado estar a usurpá-la. Objetivamente é uma decisão que tem que ser tomada após conhecimento dos resultados eleitorais, é assim que deve ser.

P: A mensagem que o primeiro-ministro e outros membros do PS deixam passar é a de que Mário Centeno vai continuar no Governo. Se isso não acontecer não acha que esteve a contribuir para enganar os eleitores?

R: De modo nenhum até porque eu não disse isso. E o que o senhor primeiro-ministro disse também disse não foi exatamente isso.

P: Nunca ninguém diz exatamente isso, mas todos dão a entender exatamente isso.

R: Já tive a oportunidade de referir que a pulsão interpretativa que se tem das palavras é natural, é por isso que existe...

P: Especialmente quando não são claras...

R: Mas é claríssima a resposta. Essa pergunta só tem uma resposta na sequência dos resultados eleitorais.

P: Mas gostaria de continuar...

R: Respondi a uma colega vossa já há bastante tempo e já tinha esta ideia firmada na minha filosofia de estar em cargos públicos, que os cargos públicos devem ser exercidos num período limitado de tempo.

P: E o que quer dizer esse limite? Essa resposta vai levar-nos para que o seu limite chegou ao fim?

R: Não, não. Percebo que a pergunta sobre Mário Centeno seja apelativa, mas vamos centrar-nos nas políticas e nos resultados.

P: Já defendeu que seria melhor termos uma maioria absoluta. Seria para si um facto de decisão o PS ganhar com maioria absoluta?

R: Não foi exatamente isso que disse. Disse que havia determinadas matérias -- estava a falar do passado - que teriam sido feitas mais rapidamente e com outra dimensão se essa condição existisse. O que não quer dizer que do debate que fizemos permanente, como sabem tinha que reunir com cada grupo parlamentar por si, não tenham saído decisões positivas e a sua implementação não tenha sido completamente assumida pelo governo, antes pelo contrário.

P: O que não quer dizer que o Governo não fizesse de maneira diferente se não estivesse obrigado a essa negociação constante...

R: Claro. É disso que saem os compromissos.

P: Ficamos sem perceber se a maioria absoluta é um ponto decisivo para a sua continuação.

R: Desse ponto de vista temos que ficar no ponto onde estávamos... Essa decisão toma-se no momento em que ela for colocada pelo senhor primeiro ministro. Se for o António Costa a ter essa responsabilidade, como deve imaginar, espero que seja, e que ela seja tomada no contexto de melhores condições para a estabilidade do país.

VC/ECR // JNM

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