Investigador critica falta de prevenção de fogos e aquisição de aviões de combate
Porto Canal / Agências
Vila Real, 27 fev (Lusa) -- Um investigador da Universidade de Vila Real criticou hoje a falta de prevenção dos fogos, denunciando a atribuição de grande parte dos recursos ao combate como é exemplo a aquisição de dois aviões anunciada na quarta-feira pelo Governo.
"O principal problema dos incêndios é a incapacidade dos decisores políticos de entender os problemas estruturais, ou pelo menos de os encarar, de concretizar medidas que vão de encontro aos problemas e não aos sintomas", afirmou hoje Paulo Fernandes, especialista em incêndios florestais.
O investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real, salientou que a gestão do setor "tem sido muito desequilibrada", com a atribuição de grande parte dos recursos ao combate e não à prevenção.
Exemplo disso será, segundo frisou, a aquisição de dois aviões Canadair, destinados à luta contra os fogos, anunciada na quarta-feira pelo ministro da Administração Interna, Miguel Macedo.
"Poderá ser um equipamento útil ao combate, mas a grande questão do país em termos de incêndios florestais é a falta de prevenção. Os 37 milhões de dólares, ou 27 milhões de euros, que irão ser investidos em cada Canadair representam cerca de quatro vezes o orçamento nacional destinado à prevenção," sustentou Paulo Fernandes.
Referiu ainda que, com a compra destes meios, o Estado passa a ter de suportar os gastos de manutenção, "que serão avultados", ao passo que, com o aluguer dos aviões, não tinha essa despesa.
No grupo de trabalho para Análise da Problemática dos Incêndios Florestais, constituído no âmbito da Assembleia da República, Miguel Macedo adiantou que está a decorrer um processo para aquisição de dois aviões, com recurso a fundos comunitários.
Atualmente, os meios aéreos próprios do Estado são compostos por seis helicópteros pesados Kamov e três helicópteros de transporte e utilitário, sendo a primeira vez que vai adquirir para a sua frota aviões Canadair.
O ministro disse também que poderá "demorar mais de um ano" para que Portugal tenha disponíveis os dois aviões.
A juntar à falta de prevenção, o investigador do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) sublinhou ainda as "dificuldades estruturais da floresta".
"Há problemas relacionados com o território: a maioria das propriedades são minifúndios, o que conduz a pouca expectativa de rendimento (devido aos incêndios) e cria um ciclo vicioso. As pessoas não investem porque consideram que o investimento não compensa", salientou.
Para o especialista, outro problema prende-se com o uso das chamas pela população rural, uma prática que ocorre durante todo o ano, sem precauções, "e que conduz, variadas vezes, a incêndios florestais".
O investigador defende também que o sistema de defesa da floresta contra incêndios em vigor deverá, "para funcionar melhor", apostar numa "maior integração entre os três pilares, cuja responsabilidade está repartida por três instituições: vigilância e deteção (GNR), prevenção (Instituto da Conservação da Natureza e Florestas) e combate (Autoridade Nacional de Proteção Civil).
Os alertas do especialista surgem na altura em que se assinalam seis meses sobre o lançamento da petição sobre a gestão do fogo, que defende a criação de um corpo profissional de bombeiros florestais e a adoção de medidas preventivas de incêndios.
Até ao momento, subscreveram a petição cerca de 830 pessoas, sendo necessárias quatro mil assinaturas para que o tema possa ser discutido na Assembleia da República.
Precisamente para debater a problemática dos incêndios, a UTAD organiza entre hoje e sexta-feira as jornadas florestais subordinadas ao tema "A floresta e a atualidade: a problemática dos fogos florestais", que reúne especialistas, alunos, bombeiros e associações de proteção da natureza.
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