Europeias: Resultados mostram corte com últimos 40 anos

| Política
Porto Canal com Lusa

Lisboa, 27 mai 2019 (Lusa) -- Analistas de política internacional ouvidos hoje pela Lusa defendem que o resultado das Europeias mostra um corte com os últimos 40 anos, com o fim da maioria absoluta das duas principais famílias partidárias europeias: PPE e PS.

"A primeira grande conclusão [a tirar do resultado das eleições europeias] é aquilo que as sondagens já afirmavam há muito tempo: o fim da maioria absoluta das duas principais grandes famílias", afirmou o investigador do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa Bernardo Pires de Lima.

Um "corte com os últimos 40 anos" que "espelha um bocadinho aquilo que é a fragmentação partidária nos Estados-membros", defende o analista, considerando que a equação negocial vai deixar de ser feita por duas grandes famílias para passar a envolver "provavelmente três ou quatro".

Para Bernardo Pires de Lima, este novo cenário "é interessante do ponto de vista de acomodar novos pontos de vista, sobretudo dos Verdes e dos Liberais".

Também Carlos Gaspar, da direção do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), considera que as eleições apresentaram uma "continuação do declínio dos partidos centristas, que já existia na última eleição para o Parlamento Europeu, em 2014", mas que se agravou.

Agora, sublinha, vê-se "uma ascensão consolidada dos partidos antieuropeus à esquerda e à direita", que, "todos juntos, podem ser a segunda força no Parlamento Europeu (PE)".

"É essa polarização entre os europeístas tradicionais e os novos antieuropeístas que irá, na minha opinião, dominar este PE", refere.

Já para o investigador de ciência política Adelino Maltês, o centro não sofreu uma decida de votos nestas eleições.

"O que houve foi uma descida do oligopólio PPE-PS Europeu", afirma, sublinhando que o tempo é de mudança na Europa toda, exceto em Portugal.

"Portugal tem, de forma inequívoca, um tipo de participação e de escolhas totalmente contrário aos da Europa Ocidental, da Europa de Leste, da Europa Central, da Europa das Ilhas do Canal e da Europa Mediterrânica", observa, concluindo que Portugal "é uma ilha".

"As nossas forças políticas são muito conservadoras, somos uma estufa e, portanto, aquilo que se passou na outra Europa não teve aqui qualquer tipo de correspondência", afirma.

De acordo com este analista, Portugal vai enfrentar, pela primeira vez, um Parlamento Europeu "sem os amigos que aguentaram [o país] em determinados momentos de crise".

Carlos Gaspar chama ainda a atenção para o "avanço significativo" dos partidos ecologistas que "são muito importantes, mas que são políticas concretas e especializadas".

Para o investigador do IPRI, estas forças "são um ator politicamente menos relevante do que as forças que, no passado, dominavam o PE e do que as forças antieuropeias que querem transformar a UE".

Já Bernardo Pires de Lima lembra que vai ser interessante perceber se "as famílias políticas que não superaram as expectativas ao nível aritmético no PE [conseguem] cooperar entre si".

"Estamos a falar de uma família com os polacos ultraconservadores e os conservadores britânicos. Estamos a falar de outra família liderada por Salvini, com a União Nacional francesa, e outros que se vão juntar também. E uma terceira família onde está o partido do 'Brexit' e o Cinco Estrelas. A coordenação entre estas famílias não é líquida", comentou.

Para este analista, o que vai decidir este "xadrez de lugares e de políticas comunitárias" vai ser o papel "dos liberais no centro da negociação entre sociais-democratas e PPE".

A diminuição da abstenção na média dos 28 países da EU foi também um dos pontos referidos pelos investigadores e analistas políticas, sublinhando que Portugal foi a exceção à regra.

A diminuição da abstenção é "um sinal de que há males que vêm por bem", considera Carlos Gaspar, defendendo que "a mobilização dos partidos antieuropeus [chamou], provavelmente, para as eleições do PE uma parte dos eleitores que no passado não estavam sequer interessados em participar".

Adelino Maltês, por seu lado, critica o "falhanço total da primeira função dos partidos, que é a mobilização política", acrescentando que considera existir também um "bloqueio da comunicação social e um documentarismo instalado".

Na opinião de Bernardo Pires de Lima, a média da abstenção na Europa -- "que ficou nos 49%" -- pode ser explicada com o facto de "a oferta partidária dos partidos tradicionais não ser a mais motivadora".

Em geral, "os partidos tradicionais não são motivadores porque tendem a esconder os impactos das políticas europeias, continuam a fazer uma campanha demasiado paroquial", acusou, lembrando que "não se motiva uma geração abaixo dos 40 anos com uma agenda paroquial, sem uma dimensão continental e inspiracional".

Admitindo que "a subida dos verdes e dos liberais talvez se se deva a isso", o investigador da Universidade Nova de Lisboa defende que temas como "alterações climática, transnacionalidade de algumas matérias europeias, mobilidade e urbanismo" são importantes para uma geração que vê "a liberdade de circulação daqui até à Finlândia como absolutamente fundamental".

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