Crise Académica/50 anos: Décio de Sousa atribui sucesso do movimento ao trabalho realizado junto das faculdades

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Porto Canal com Lusa

Coimbra, 16 abr 2019 (Lusa) - O sucesso da crise académica de abril de 1969 na Universidade de Coimbra (UC), que abalou o regime do Estado Novo, começou a ser desenhado em 1965 através de uma estratégia de envolvimento de todas as faculdades.

Cinquenta anos depois da crise, o médico Décio de Sousa, então presidente da mesa da Assembleia Magna da Associação Académica de Coimbra, recordou à agência Lusa o trabalho exaustivo feito depois da crise de 1965, que culminou com a expulsão dos estudantes eleitos nesse ano e a imposição de uma comissão administrativa.

"Na altura, fizemos uma manifestação contra o Governo a pedir autonomia, mas nunca me senti tão mal ao ver os estudantes a saírem das aulas e a olharem para nós com ar de 'quem são estes rapazes' e aí percebemos que estávamos a trabalhar mal", lembrou o antigo presidente do Centro Hospitalar de Coimbra.

Um grupo de estudantes, em que Décio de Sousa se incluía, delineou uma estratégia que passou por ir de encontro aos interesses dos estudantes, começando pela eleição de delegados em todos os cursos da universidade, que "foi a primeira batalha".

"Tínhamos de trabalhar para o movimento estudantil para que os estudantes não passassem por nós como se não nos conhecessem", sublinhou.

Com a sede da Associação Académica encerrada, o trabalho associativo passou a desenvolver-se nas faculdades, em todos os cursos, com o levantamento das necessidades e das condições de ensino para os alunos, "numa reflexão sobre os seus interesses, que já não era a parte política em que não iam atrás".

Nesse período, entre 1965 e 1969, o secretariado estudantil publica o jornal Badalo, organiza saraus, conferências, atividades desportivas e culturais, "tudo feito à base das repúblicas, que era o assento" que tinham.

"Houve uma grande preocupação com os estudantes, em fazer o levantamento das suas necessidades por todos os cursos e faculdades, sem politizar, e isso deu muita força ao movimento, criando um energia que, em 1968, conseguiu pedir eleições para a associação académica através de um abaixo-assinado com 4.000 estudantes, indicando sete nomes para uma comissão pró-eleições", frisou Décio de Sousa, que viveu na República dos Pinguins.

O reitor Andrade de Gouveia marcou eleições para o início de 1969 e a lista liderada por Alberto Martins, com a presidência da mesa da Assembleia Magna encabeçada por Décio de Sousa, foi eleita e tomou posse no final de fevereiro.

"Há aqui uma questão de tempo que nos deixa espantados. Este movimento estudantil de 1969 tem um trabalho incrível até ao espoletar da crise em abril, com o pedido do Alberto Martins para falar na inauguração do edifício das Matemáticas, que não foi aceite, seguindo-se em maio a greve às aulas e depois greve aos exames", recordou.

"É espantoso como tanta coisa se passou em tão pouco tempo", sublinhou Décio de Sousa, salientando que, mesmo depois das eleições, as primeiras em que foram publicadas as fotografias dos candidatos, o trabalho junto das faculdades continuou a ser feito.

Já depois do encerramento das aulas, realizou-se uma assembleia magna em 28 de maio que decretou a greve aos exames, na reunião mais concorrida de sempre da UC, com "cinco mil estudantes contados", num universo de "10 a 11 mil" matriculados

"Este número não foi de olho, foram contados, pois nós tínhamos controlos nas três entradas de quem entrava e quem saía e havia locais para os estudantes de fora, que vieram de Lisboa e, sobretudo do Porto. Foi uma assembleia memorável", enfatizou.

Tal como todos os elementos da lista e os delegados de curso, exceto as mulheres, num total de 50, Décio de Sousa foi expulso da UC e mobilizado para o serviço militar, começando por cumprir a recruta em Mafra, onde ficou como atirador nas peças de artilharia.

Em 1970, regressou à UC depois de uma "amnistia" concedida por Marcelo Caetano, após a substituição do ministro da Educação José Hermano Saraiva por Veiga Simão e do reitor Andrade de Sousa por Gouveia Monteiro. Os novos nomeados propuseram o fim do castigo aos estudantes forçados ao serviço militar.

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