Madrid, 10 abr 2019 (Lusa) - O compositor norte-americano John Adams recebeu o Prémio Fronteiras do Conhecimento da Fundação BBVA, na categoria de Música e Ópera, em reconhecimento pelo seu trabalho que combina "complexidade musical" e a ligação com o público.

Na justificação para a atribuição do prémio, John Adams é apresentado como criador de um novo género de ópera, o "docu-opera", ou ópera-documentário, destacando-se o facto de, durante a sua carreira, ter abordado temas atuais como a guerra nuclear, o conflito israelo-palestiniano, o terrorismo e o feminismo, em obras como "Nixon na China", "Doctor Atomic", "A Morte de Klinghoffer" e "Girls of the Golden West" ("Meninas do Oeste Dourado").

"Para sobreviver, a ópera deve abordar questões que nos dizem respeito. Para música, é o equivalente a um filme ou romance. Deve apelar à consciência coletiva, da política à preocupação com armas nucleares ou com o terrorismo", argumentou o compositor numa videoconferência, após a decisão anunciada em Madrid, na terça-feira.

A música de Adams evoca a tradição clássica, embora incorpore influências de outros géneros como o jazz, o rock e o pop. Esta combinação faz dele um "extraordinário comunicador" e possuidor de uma linguagem com a qual conseguiu democratizar a música contemporânea "sem qualquer perda de integridade formal e complexidade musical", afirmou o júri dos prémios da Fundação BBVA.

John Adams tem composições em todos os géneros - música instrumental e vocal, coral, para instrumentos solistas e conjuntos de câmara, para orquestra e para palco - embora se destaque no campo da ópera, onde é um dos autores vivos mais representados.

"Testemunhei o florescimento da grande era da música rock, que falava às pessoas numa linguagem simples e apaixonada. Queria construir uma linguagem musical minha que, embora estivesse dentro da estrutura da tradição 'clássica', tivesse uma energia e um poder de comunicação semelhantes aos da grande música popular americana", explicou John Adams, após a atribuição do prémio.

O compositor, nascido em Worcester (Massachusetts), nos Estados Unidos, escreveu as suas primeiras composições aos dez anos. Foi compositor residente da Sinfónica de São Francisco até 1985, onde estreou muitas de suas obras orquestrais como "Harmonium" (1981), "Grand Pianola Music" (1982) e "Harmonielehre" (1985).

O júri dos prémios Fronteiras do Conhecimento foi presidido pela maestrina da Orquestra Sinfónica Portuguesa, Joana Carneiro, e constituído pelo apresentador da Rádio BBC 3 Andrew McGregor, pelo administrador artístico da Academia Nacional de Santa Cecília, de Itália, Mario Bucarelli, pelo diretor artístico do Palácio da Música Catalã, Víctor García de Gomar, e pelo maestro e compositor Pedro Halffter Caro.

O prémio, no valor de 400.000 euros, é tradicionalmente entregue na sede da Fundação BBVA em Madrid, mas nesta edição será transferido para Bilbau, no dia 18 de junho.

Os prémios Fronteiras do Conhecimento, da Fundação BBVA, têm por objetivo reconhecer "contribuições fundamentais, num amplo leque de campos do conhecimento científico, nas áreas da tecnologia, das humanidades e da criação artística", das Ciências (Física, Química, Matemáticas), à Biologia e Biomedicina, das Tecnologias da Informação, à Ecologia e às Alterações Climáticas, da Economia e Finanças, à Cooperação para o Desenvolvimento, abrangendo ainda as Ciências Sociais, a Música e a Ópera.

Kaija Saariaho, Sofia Gubaidolina, Georges Aperghis, Steve Reich, Gyorgy Kurtag, Salvatore Sciarrino, Helmut Lachenmann, Cristóbal Halffter e Pierre Boulez são outros compositores galardoados em edições anteriores dos prémios.

JZBA/MAG // MAG

Lusa/Fim