Homem confessa no Tribunal de Ourém ter matado a mulher e afirma-se arrependido
Porto Canal / Agências
Ourém, 19 fev (Lusa) -- O homem de 75 anos acusado de ter matado a mulher em maio de 2013 em Formigais, no concelho de Ourém, confessou hoje o crime e afirmou-se arrependido.
"Deu-me uma coisa, não sei explicar o que é que foi. Estava deitado, dei um salto para o chão, fui direito à mesa-de-cabeceira, tirei o número do meu filho e estavam lá os cartuchos e disparei", disse o arguido no Tribunal Judicial de Ourém.
Segundo o homem, que se encontra detido preventivamente no hospital de Caxias, a mulher estava deitada no sofá, de costas para ele, reconhecendo não lhe ter, previamente aos dois disparos, dirigido a palavra.
Adiantando sofrer de problemas de saúde, para o qual toma diversa medicação, o arguido explicou ao coletivo de juízes, presidido pela magistrada Cristina Almeida e Sousa, que, no princípio do casamento, "davam-se bem", mas que a vítima já o chateava "há bastante tempo".
"Começou [a chatice] quando fiquei pior, ela mandava-me fazer uma coisa qualquer e eu não podia. Ela, em vez de vir a horas, para fazer o comer, vinha mais tarde ou não fazia", continuou o detido, que admitiu a existência de discussões: "Ela ficava aborrecida por eu não trabalhar. Eu não trabalhava porque não podia", justificou.
O arguido, que responde por um crime de homicídio qualificado e outro de detenção ilegal de arma e crime cometido com arma, relatou ao tribunal que ouviu uma conversa entre a vítima e a irmã, que a convidou a ir para França, acrescentando: "Ia ficar sozinho, daí que veio os tiros".
À pergunta por que não se divorciou, o homem respondeu: "Porque nunca tive essa ideia".
Atribuindo a propriedade da arma à mulher, mas afirmando que comprou os cartuchos para "espantar os pássaros do milho", o idoso declarou que não devia ter matado a mulher.
"Não devia ter feito, estou arrependido", referiu, adiantando que a mulher lhe exigiu dinheiro e bens, tendo passado, através de notário, bens para aquela.
Na sessão da manhã, o tribunal ouviu ainda uma médica psiquiátrica que considerou que o arguido apresenta uma "imputabilidade significativamente diminuída, mais próxima da inimputabilidade".
Segundo a perita, o homem, "umas semanas antes dos factos, estaria bastante descompensado", apontando a existência de uma "depressão profunda".
A família da vítima, que tinha 58 anos, pede uma indemnização de 198 mil euros.
O julgamento prossegue às 14:00.
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