Idai: Ciclone poderá ter "impacto surpreendentemente limitado no PIB"
Porto Canal com Lusa
Londres, 25 mar (Lusa) -- O analista que segue a economia de Moçambique na consultora Capital Economics considerou hoje à Lusa que o ciclone idai, apesar de devastador do ponto de vista humano, deverá ter um impacto "surpreendentemente limitado" do ponto de vista económico.
"Ainda é provavelmente demasiado cedo para avaliar realisticamente os danos, mas é muito possível que os efeitos económicos sejam surpreendentemente limitados", disse John Ashbourne, em declarações à Lusa.
Na base desta avaliação, Ashbourne argumentou que "a economia moçambicana é baseada apenas nalguns setores, por isso se estes continuarem a funcionar, os danos para a sociedade, no geral, podem não aparecer nos dados económicos oficiais", o que não retira impacto às centenas de mortes no país.
"Isto não quer dizer que os efeitos não são terríveis para milhões de pessoas, mas apenas que não afetam muito o Produto Interno Bruto, o que é, aliás, um dos problemas do PIB como medida da riqueza nacional", acrescenta o analista.
Do ponto de vista da evolução do PIB, Ashbourne afirma que o mais importante será "o que a disrupção na infraestrutura de transportes faz ao comércio", porque as exportações de energia para a África do Sul, por exemplo, foram cortadas.
"A grande questão é saber o que vai acontecer às exportações de carvão e metais da província de Tete; já não vão pela Beira, portanto desde que o comboio para Nacala funcione, a disrupção pode não ser assim tão grande", concluiu o economista nas declarações à Lusa.
De acordo com os dados oficiais, a economia de Moçambique cresceu 3,3% no ano passado, mas desde o terceiro trimestre de 2017 (quando expandiu 1,4%) que a evolução da produção de riqueza, medida pela média trimestral, não registava um valor tão baixo: no último trimestre do ano passado, a economia moçambicana cresceu 3,1%, abrandando face aos 3,2%, aos 3,4% e 3,3% que registou nos trimestres anteriores de 2018, e bem abaixo dos 4,9% registados nos últimos três meses de 2017.
A passagem do ciclone idai em Moçambique, no Zimbabué e no Maláui fez pelo menos 762 mortos, segundo os balanços oficiais mais recentes.
Em Moçambique, o número de mortos confirmados subiu hoje para 447, no Zimbabué foram contabilizadas 259 vítimas mortais e no Maláui as autoridades registaram 56 mortos.
O ministro da Terra e do Ambiente moçambicano, Celso Correia, sublinhou hoje que estes números ainda são provisórios, já que à medida que o nível da água vai descendo vão aparecendo mais corpos.
O número de pessoas afetadas em Moçambique subiu para 794.000.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que está a preparar-se para enfrentar prováveis surtos de cólera e outras doenças infecciosas, bem como de sarampo, em extensas zonas do sudeste de África afetadas pelo ciclone Idai, em particular em Moçambique.
A cidade da Beira, no centro litoral de Moçambique, foi uma das mais afetadas pelo ciclone, na noite de 14 de março.
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