"Ensinou-nos a compreender com ironia os paradoxos da vida social e política" - Governo
Porto Canal com Lusa
Lisboa, 14 mar (Lusa) -- A minsitra da Cultura, na nota de pesar pela morte, hoje, de Augusto Cid, aos 77 anos, afirma que o cartoonista "ensinou-nos a compreender com ironia os paradoxos da vida social e política".
A ministra Graça Fonseca, no mesmo comunicado, afirma que "o trabalho de Augusto Cid soube inventar e retratar com humor o país político".
"A herança que nos deixa é a da liberdade do desenho, da palavra e da imaginação", escreve a ministra da Cultura, referindo que "com a morte de Augusto Cid desaparece um olhar comprometido com a causa e o pensamento público, traduzido no comentário político através do cartoon".
"Ao longo dos anos, Augusto Cid ensinou-nos a compreender com ironia os paradoxos da vida social e política. O traço fino que materializou no cartoon, na banda-desenhada ou na escultura encontrou sempre na observação da sociedade a liberdade de expressão e o desejo de inquietação".
O cartoonista e escultor Augusto Cid, de 77 anos, morreu hoje de manhã, em Lisboa, disse à agência Lusa um familiar.
Augusto Cid destacou-se como cartoonista, tendo trabalhado em vários jornais e revistas, nomeadamente Vida Mundial, A Mosca, suplemento do Diário de Lisboa, editado por Luís de Sttau Monteiro, O Diabo, O Independente e no semanário Sol, assim como na TVI, sempre com uma perspetiva da atualidade, tendo editado, entre outros títulos, "Cid, o Cavaleiro do Cartoon", catálogo que acompanhou a exposição homónima.
Como cartoonista teve vasta colaboração na imprensa portuguesa, que estendeu ainda a A Parada da Paródia, à antiga revista Observador e a O Século, Jornal Novo, Povo Livre, jornal do PSD, em que militou, A Tarde, O Dia, Semanário, Focus e Grande Reportagem.
Nas décadas de 1970 e de 1980, as suas 'tiras' satirizaram frequentemente figuras como Álvaro Cunhal, Francisco Pinto Balsemão e António Ramalho Eanes, personalidade a quem dedicou dois livros seus: "O Superman" e "Eanito, el Estático".
Além destes, o autor conta mais de 30 títulos publicados, alguns com edições de autor. Da sua bibliografia fazem parte, entre outros, "Que se passa na frente", "PREC - Processo Revolucionário Eventualmente Chocante", "O Último Tarzan", "Demito-me uma Ova", "Agarra, Mas Não Abuses", "Alto Cão Traste", "O Produto Interno Brito", "Porreiro, Pá" e "Soares é Fish".
Augusto Cid fez também parte de vários álbuns coletivos, nomeadamente os que reuniram as melhores produções anuais, em que figurou ao lado de criadores como António, Maia, Vasco, e de nomes de gerações mais recentes, como Cristina Sampaio, António Jorge Gonçalves e André Carrilho, entre outros.
O caso de Camarate, relativo ao atentado que causou a morte, a 04 de dezembro de 1980, do então primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro, da sua companheira, Snu Abecassis, do ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa, dois outros passagerios e os dois pilotos, teve a sua atenção, tendo sempre defendido a tese de atentado, como o demonstrou na X Comissão Parlamentar de Inquérito a este caso, em 2015.
Sobre esta temática publicou os livros "Camarate" (1984) e "Camarate: Como, Porquê e Quem" (1987).
Em junho de 1999 foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique (grau comendador), pelo Presidente Jorge Sampaio, que, no prefácio de "Cid, O Cavaleiro do Cartoon", se confessou "admirador do seu trabalho", no qual reconhecia "uma forte componente política" e um "inconfundível e inteligente traço", com "comentários certeiros sobre a atualidade".
Como escultor, tem várias obras no país, nomeadamente, em Lisboa, a peça de homenagem às vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001, instalada no cruzamento das avenidas de Roma e dos Estados Unidos da América, e a dedicada a Nuno Álvares Pereira, no Restelo, inaugurada em novembro de 2016, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
O velório de Augusto Cid realiza-se na sexta-feira, a partir das 17:00, na Basílica da Estrela, em Lisboa, onde será rezada missa de corpo presente no sábado, pelas 10:00, seguindo-se o funeral para o cemitério do Alto de São João, onde será realizada a cerimónia de cremação.
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