Dia Internacional da Mulher na Argentina leva meio milhão às ruas de Buenos Aires

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Porto Canal com Lusa

Buenos Aires, 08 mar (Lusa) - Pelo menos meio milhão de argentinas fizeram na sexta-feira uma manifestação recorde, em Buenos Aires, contra a violência machista e a favor do aborto, numa luta que está a influenciar as mulheres em toda a América Latina.

A maré feminista estendeu-se ao longo de 1,5 quilómetros, no Dia Internacional da Mulher, na capital argentina, entre o Parlamento e a Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, sede do Governo.

Movimentos sociais, partidos políticos e organizações não governamentais mobilizaram militantes, reuniram faixas e bandeiras, mas a imensa maioria de manifestantes era composta por mulheres sensibilizadas para a causa, sem distinção de idades, congregando gerações de famílias inteiras, marchando avós, mães e filhas lado a lado.

A universitária Emilia Massacani (21 anos) erguia um cartaz em homenagem a todas as mulheres que anualmente são vítimas mortais de violência doméstica: "Devemos às raparigas que nunca voltaram", dizia o cartaz, numa referência a cada nova vítima, em cada 30 horas, no país, num total de 292 homicídios de mulheres, registados em 2018.

"Luto pelas que já não estão, porque foram vítimas da violência machista, mas também vítimas da violência conservadora: aquelas que foram abortar na clandestinidade e morreram", explicou Emilia à Lusa, exibindo o lenço verde, símbolo da campanha nacional pela despenalização do aborto.

"Educação sexual para decidir, anticoncetivos para não abortar, aborto legal para não morrer", diz o lenço verde.

"Queremos liberdade e igualdade. Liberdade sobre o nosso corpo e igualdade de gênero", exclamou Massacani.

"A liberdade sobre o corpo" está na base da luta pelo aborto legal, seguro e gratuito que, no ano passado, foi aprovado pela Câmara de Deputados, mas rejeitado pelo Senado argentino.

Mas "a liberdade sobre o corpo" também inclui atos quotidianos, como poder andar pela rua sem ser assediada, destacam as manifestantes.

"Os homens pensam que gostamos, mas são comentários que incomodam. Acham que podem dizer o que quiserem, de um elogio a uma obscenidade", afirmou a Emilia Massacani.

Ao seu lado, a estudante de medicina Bianca Oppizzi (23 anos) concordou. "Ontem, fazia muito calor e eu queria vestir um 'short' para ir à faculdade. Acabei por vestir uma calça comprida para evitar olhares e até que tocassem no meu corpo", acrescentou.

Bianca erguia o cartaz "À Justiça machista, memória feminista", que denuncia a visão machista na Justiça. A crítica não é pela ausência de leis, mas diretamente aos juízes que não as aplicam, libertando aqueles que foram presos depois de detidos por crimes de violência doméstica, nomeadamente o homicídio.

"A impunidade dos que cometem crimes gera ainda mais impotência. A mensagem é que podem fazer o que quiserem conosco porque não haverá nenhum castigo", criticou a estudante de medicina. "A Justiça é cega, surda e machista", disparou.

Embora as mulheres tivessem sido a maioria nesta manifestação, a presença masculina também reforçou os protestos.

O reformado Rodolfo Ravioli (76 anos), além do lenço verde de apoio à despenalização do aborto, levava também o lenço laranja, símbolo da campanha nacional por um Estado laico.

"Igreja e Estado, assuntos separados", dizia o lenço que Rodolfo exibia no punho, em gesto de uma vitória que quer próxima.

O artigo número 2 da Constituição argentina diz que o Estado "sustenta" o culto católico apostólico romano. "Na minha opinião, esse artigo deveria ser retirado da Constituição", defendeu Rodolfo.

"Sou um velho militante a favor do aborto. Quando comecei, em 1985, éramos um grupo muito pequeno e as pessoas reagiam muito mal quando pedíamos assinaturas. E agora as mulheres estão a mudar a história. É uma questão de tempo", nas previsões de Rodolfo Ravioli.

O professor Carlos (33 anos) foi com a mulher e a pequena Iby à 'mega manifestação'. Pediu o fim dos homicídios e dos abortos clandestinos que fazem vítimas, principalmente entre as mulheres pobres.

"Essas conquistas talvez já não sejam para mim, mas, com certeza, para a milha filha", disse o professor à Lusa.

Enquanto a manifestação crescia, uma notícia teve impacto no protesto. Devido a uma complicação respiratória, morreu o bebé de uma menina de 11 anos, que foi violada pelo namorado de 65 anos da avó.

Embora a lei preveja o aborto em casos de violação, a menina foi obrigada a dar a luz a um bebé de 25 semanas de gestação na província de Tucumán, no dia 26 de fevereiro.

A família da menor pediu o aborto, mas a procuradora do caso decidiu que fosse realizada uma cesariana, impondo uma segunda violação à criança.

No dia em que a corrente humana contra a violência sobre as mulheres e pela despenalização do aborto atingiu um compacto de quilómetro e meio, na capital argentina, entrou em vigor a lei que estabelece a igualdade nas candidaturas.

A Lei de Paridade de Género, que entrou em vigor na Argentina, no Dia Internacional da Mulher, 08 de março, estabelece que passa a haver número igual de mulheres e homens nas candidaturas ao Parlamento. Até agora, a lei previa apenas uma quota de 30% para as mulheres.

MYR // MAG

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