Portugal "fundou Lagos, mas ainda não descobriu a Nigéria" - diplomata

| Política
Porto Canal com Lusa

Lisboa, 14 fev (Lusa) -- Os portugueses "fundaram Lagos, mas ainda não descobriram a Nigéria", lamenta em declarações à Lusa o encarregado de negócios de Portugal em Abuja, Jorge Fernandes, que pergunta porque que não há uma delegação da AICEP na maior economia africana.

"Porque é que a AICEP [Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal] não abriu ainda uma delegação na Nigéria? Às vezes sou contactado por empresas portuguesas e não tenho competência para dar resposta. A AICEP já devia estar em Lagos há muito tempo", afirma o diplomata.

"Naturalmente, há problemas de segurança, mas não em cidades como Abuja [a capital política]. E Lagos [a maior cidade nigeriana e a sua capital económica] tem as mesmas questões de violência que encontramos em cidades grandes como São Paulo, ou a Cidade do México, não é muito diferente", diz Jorge Fernandes.

"Este país tem 190 milhões de habitantes, é o maior mercado de África. Ora, só não há uma delegação na maior economia africana porque há muita gente míope que ocupa lugares para os quais não está habilitada", acusa o diplomata.

"Foram os portugueses que fundaram Lagos, mas desde aí esqueceram-se. Os portugueses fundaram Lagos, mas ainda não descobriram a Nigéria", remata.

E "o problema não é de agora" nem restrito à Nigéria. "Portugal não investe nada aqui, como não investe nada noutros países africanos muito importantes" e isto, considera o diplomata, tem a ver com "a forma como se olha para o mundo".

"Portugal está centrado em Angola e sabe-se as vantagens e os problemas disso. A nossa obsessão por Angola parece uma paranoia. Há em África outros países onde podemos entrar", diz Jorge Fernandes, que não se coíbe de sublinhar a fragilidade das relações luso-angolanas.

"Fui cônsul geral em Luanda e os angolanos quando passam por alguma falta de ar, os primeiros a quem deixam de pagar é aos portugueses. Eles fazem dos portugueses gato-sapato

Portugal esteve sempre de cócoras em termos diplomáticos em relação a Angola", afirma.

Quanto à atitude com que Portugal está na Nigéria, ela é tem a sua ilustração mais eloquente na própria representação diplomática no país: tem "limitações a todos os títulos", e "é inimaginável a forma como funciona". "Tenho apenas um funcionário, agora que a secretária ficou doente, não dá para acreditar", desabafa.

Aliás, a embaixada de Portugal em Abuja, acrescenta a fonte, "esteve para ser encerrada" no tempo do anterior governo do PSD e de Paulo Portas à frente da diplomacia portuguesa, mas no atual contexto "não será facilmente fechada".

"No ano passado tivemos aqui mais de 6 mil pedidos de vistos, fomos procurados por muitos interessados em investir em Portugal, por pessoas interessadas em comprar casas, etc. Por outro lado, Portugal participa com outros países na força de paz que está na República Centro-Africana", a Missão das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINURCA), e estes são argumentos fortes para a manutenção da representação diplomática no gigante africano, explica.

O próximo embaixador português na capital nigeriana, Luís de Barros, encontra-se nomeado, mas as "burocracias habituais" no Ministério dos Negócios Estrangeiros têm retido o diplomata, segundo o encarregado de negócios. "Logo que venha, regresso a Lisboa", diz Jorge Fernandes.

A Nigéria, um país com 191 milhões de habitantes, incluindo 84 milhões de eleitores registados, elege este sábado, dia 16, o seu Presidente para os próximos quatro anos, assim como os deputados à Assembleia Nacional e os 36 governadores dos estados federados que compõem maior economia de África e o seu maior produtor petrolífero.

APL // PJA

Lusa/Fim

+ notícias: Política

Governo dá início às negociações com professores sobre recuperação do tempo de serviço

A nova equipa do Ministério da Educação começa esta quinta-feira as reuniões com os sindicatos de professores para discutir a recuperação do tempo de serviço congelado no tempo da ‘troika’ (2011-2014), uma reivindicação que motivou protestos e greves nos últimos anos.

PSD: Montenegro eleito novo presidente com 73% dos votos

O social-democrata Luís Montenegro foi hoje eleito 19.º presidente do PSD com 73% dos votos, vencendo as eleições diretas a Jorge Moreira de Silva, que alcançou apenas 27%, segundo os resultados provisórios anunciados pelo partido.

Governo e PS reúnem-se em breve sobre medidas de crescimento económico

Lisboa, 06 mai (Lusa) - O porta-voz do PS afirmou hoje que haverá em breve uma reunião com o Governo sobre medidas para o crescimento, mas frisou desde já que os socialistas votarão contra o novo "imposto sobre os pensionistas".