Desalojados de edifício histórico de Luanda aguardam solução ao relento

| Mundo
Porto Canal com Lusa

Luanda, 12 fev (Lusa) - Dezenas de angolanos estão ao relento há mais de um mês em Luanda, depois de serem retirados de um edifício seiscentista devido às "inúmeras fissuras e risco de desabamento", criticando o "silêncio das autoridades" quanto ao seu destino.

No total são 24 famílias que, desde 07 de janeiro, se encontram ao relento, no largo do Baleizão, distrito urbano da Ingombota, centro da cidade, depois de as autoridades terem esvaziado o edifício onde funcionou o antigo Colégio Dom João II, na época do governo colonial português.

Os moradores contaram hoje à Lusa que a situação em que se encontram ocorreu após uma das paredes de uma das residências do edifício de primeiro andar, Património Histórico-Cultural desde setembro de 1947, ter desabado e, por "receio do pior", foram retirados sem os respetivos haveres.

Com fissuras visíveis, as autoridades de Luanda encerraram as entradas principais do edifício e é ao relento, enfrentando todas as intempéries, que as famílias fazem as refeições e dormem, à espera de uma solução do governo angolano.

Manuel Vieira, que habitou o edifício durante 37 anos, lamenta a situação em que se encontra, descrevendo que as autoridades até cederam um espaço com respetivas tendas, no bairro da Paz, distrito do Ngola Kiluanje, mas o local, realçou, "não é seguro nem atrativo".

"Fomos verificar as condições e não eram aquelas que nos foram prometidas, com tendas degradadas, sem água, luz, criminalidade. Desta forma preferimos mantermo-nos aqui, onde estamos mais seguros. Daqui não saímos", contou hoje à Lusa.

O "mini-acampamento" bem ao lado de um hotel e a escassos metros da nova marginal de Luanda é o cenário dos moradores que, em tendas ou debaixo de proteções do sol, prometem não arredar pé, pelo menos "enquanto as autoridades não encontrarem novas alternativas".

"Porque o que queremos é uma casa condigna para morar", salientou Manuel Vieira.

Com uma família de quatro membros, todos ao relento, o morador, que trabalha por conta própria, deu conta igualmente de que "não conseguiu matricular os filhos" para o ano escolar 2019 porque os "documentos se encontram no interior das residências" encerradas.

"Não temos como entrar. Estamos, assim, sem condições para fazer uma alimentação condigna. As senhoras têm de fazer as necessidades aqui, igualmente. Estamos nesta condição péssima e apenas pedimos que o governador veja a nossa situação", apelou.

"Também somos cidadãos. O que nos estão a fazer até é já contra os direitos humanos. Pedimos, encarecidamente, até ao próprio Presidente da República, para que nos acuda. É uma situação que não compreendemos, porque o Governo nos abandonou", lamentou.

Lamentações também surgiram da anciã Adriana Chalunguila, 65 anos, que viveu no edifício durante 30 anos, afirmando que o novo espaço e as tendas oferecidas pelo Governo de Luanda "não oferecerem qualquer comodidade".

"E como vamos viver numa tenda com os filhos? Têm de nos dar também uma casa para viver e não as tendas. Isso não aceitamos", afirmou.

"Desde que estamos aqui passamos mal com os mosquitos, com a fome, com a sede e com a chuva. Não estamos a aguentar mais. Também somos filhos do Governo. Será que não somos pessoas que merecem uma casa", questionou.

Igualmente ao relento, Paulina Pedro, de 66 anos, relatou as dificuldades por que passa há mais de um mês.

"Estamos aqui a sofrer com fome, sede e sem sítio para higiene pessoal. Tomamos banho com uma água dos esgotos. Estamos a pedir ao nosso Presidente, João Lourenço, para nos ajudar de forma a sairmos daqui. Nas tendas onde nos querem alojar, aquele sítio, não é para nós, é por isso que negamos", atirou.

O estafeta Gilmário Simão, de 28 anos, contou à Lusa que ali residiu desde tenra idade, pedindo "bom senso às autoridades" de Luanda para encontrar uma solução para o futuro das famílias ao relento porque, explicou, naquela condição, "estão a sobreviver".

"Encerraram o edifício com todos os pertences, desde roupas a comida. Neste momento, estamos a passar por uma situação muito crítica. As refeições que comemos são rações frias dos seguranças. É muito difícil manter a higiene", destacou.

DYAS // PJA

Lusa/Fim

+ notícias: Mundo

Dois portugueses mortos e vários feridos em acidente na Namíbia

Dois portugueses morreram e vários ficaram feridos num acidente que envolveu hoje dois autocarros na zona de Walvis Bay, na Namíbia, disse à Lusa o secretário de Estado das Comunidades.

Cavalos à solta causam o caos em Londres e provocam quatro feridos

Quatro pessoas ficaram feridas depois de vários cavalos do exército britânico em fuga terem corrido descontroladamente pelo centro de Londres, confirmou a Polícia Metropolitana.

Pedro Sánchez pondera demissão do governo espanhol após mulher ser alvo de investigação

O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, cancelou esta quarta-feira a agenda e vai decidir até segunda-feira se continua no cargo, na sequência de uma investigação judicial que envolve a mulher, disse o próprio.