Comité para a Proteção dos Jornalistas pede libertação de moçambicano detido pelas autoridades
Porto Canal com Lusa
Nova Iorque, 10 jan (Lusa) -- O Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) apelou à "libertação imediata" do jornalista moçambicano Amade Abubacar, e acusou as autoridades moçambicanas de estarem a censurar a cobertura dos ataques de grupos armados em Cabo Delgado.
"As autoridades moçambicanas devem libertar imediatamente Amade Abubacar, sem acusação formal, e parar de censurar a cobertura da insurgência, detendo jornalistas e acusando-os de conluio com os militantes", criticou Angela Quintal, coordenadora do programa do CPJ em África.
A responsável do CPJ lembrou ainda que Moçambique se prepara para "eleições cruciais" em outubro, pelo que Cabo Delgado não pode ser uma "região proibida" para os órgãos de comunicação social.
"Os cidadãos têm o direito de fontes independentes e diversificadas de informações sobre o que está a acontecer no seu país", vincou a ativista.
O jornalista da Rádio e Televisão Comunitária Nacedje de Macomia, um órgão estatal sediado em Cabo Delgado (província do norte de Moçambique), foi preso a 05 de janeiro numa paragem de autocarros, em Macomia, enquanto fotografava famílias que fugiam de Cabo Delgado com receio de serem atacadas.
Segundo o Instituto para a Comunicação Social da África Austral -- Moçambique (MISA-Moçambique), Abubacar está preso em Mueda, uma prisão militar para suspeitos de terrorismo.
O Zitamar, um site de notícias independente, relatou que Amade contactou a família, através de um telemóvel emprestado, no dia em que foi preso. Terá sido "repetida e brutalmente pontapeado" e acusado de ter ligações a uma conta de Facebook, entretanto suspensa, que promovia e recrutava os insurgentes, segundo um 'post' de Pinnacle News, que publica informação nesta rede social.
O CPJ contactou o governador de Cabo Delgado, Júlio Parruque, através do WhatsApp, no dia 07 de janeiro, e este terá dito que iria obter informações no dia seguinte, mas não respondeu às mensagens subsequentes.
O porta-voz do Presidente moçambicano Filipe Nyusi, Arsénio Henriques, também não respondeu às solicitações desta organização não-governamental.
O irmão do jornalista, Ali Abubacar, disse ao CPJ que a família não sabe por que é que Amade foi detido e não conseguiu voltar a contactá-lo desde o dia da prisão.
"Penso que é uma forma de silenciar a voz de um jornalista. Condenamos esta ação como uma verdadeira ameaça à liberdade de imprensa", afirmou, reforçando que a família está "muito preocupada" e apelando às autoridades para que libertem o irmão o mais rapidmanete possível.
Pouco se sabe sobre os grupos armados que estão por trás dos ataques e as suas motivações, desde que a onda de violência se tornou mais mediática, com o ataque a uma esquadra policial de Mocímboa da Praia em outubro de 2017.
Em dezembro de 2017, os militares de Cabo Delgado prenderam o jornalista de investigação Estácio Valoi, o investigador da Amnistia Internacional David Matsinhe, e o seu motorista, Girafe Saide Tufane, e deteve-os dois dias antes de os libertar sem acusação, de acordo com o MISA Zimbabué.
Em junho de 2018, Pinde Dube, o correspondente da estação televisiva privada sul-africana eNCA, foi também preso em Cabo Delgado quando cobria os ataques.
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