Agentes de segurança pública brasileiros denunciam homofobia no local de trabalho

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Porto Canal com Lusa

Brasília, 08 dez (Lusa) - Vários agentes de segurança pública brasileiros denunciaram esta sexta-feira, durante um seminário em Brasília, casos de descriminação que sentiram no exercício das suas funções, e no local de trabalho, devido à sua orientação sexual.

O caso dos ataques perpetrados contra um polícia que foi fotografado a beijar outro homem em são Paulo, em julho deste ano, foi o trampolim para que a Renosp - Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública LGBTI (sigla de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgénero e Intersexuais) ganhasse força e apoiasse outros profissionais que passam diariamente pelo mesmo tipo de preconceito.

Dessa forma, surgiu o Seminário Nacional de Segurança Pública sem LGBTIfobia, que contou hoje com a sua 3ª edição na capital brasileira, Brasília.

O Secretário-geral da Renosp e organizador do seminário, Anderson Cavichioli, afirmou, em declarações à agência Lusa, que há relatos de trabalhadores que não conseguem progredir na carreira devido à sua orientação sexual.

"Temos casos de não compreensão, de não inclusão das pessoas LGBTI de forma adequada nas forças de segurança. Temos relatos de que, por vezes, há dificuldades no acesso a promoções, há casos de violência, e a Renosp quer combater essas práticas através do instrumento da educação", declarou Anderson.

O secretário-geral da organização defende que um agente LGBTI tem a mesma competência e capacidade para servir o país, não devendo ser impossibilitado ou inibido de exercer as suas funções devido ao seu género ou preferência sexual.

"Acreditamos, e temos a certeza, que podemos contribuir para que as forças de segurança sejam eficazes, sejam democráticas e, principalmente, que sejam plurais. (Queremos) que todos aqueles que desejam servir o seu país nas forças de segurança possam fazê-lo, sem receio por ser LGBTI", disse.

Foram vários os casos de homofobia relatados ao longo do seminário: o de um chefe de uma esquadra brasileira que promovia a 'caça' às pessoas LGBTI, uma agente da polícia que teve de começar a usar roupas masculinas para conseguir alcançar uma subida de posto dentro de uma estrutura de segurança pública ou o caso de um agente que foi ofendido nas redes sociais por ter sido fotografado de farda a participar num seminário sobre a discriminação da comunidade LGBT.

Tiago Lisboa, polícia militar do Estado de São Paulo, foi uma das pessoas que decidiu partilhar a sua experiência, através de um depoimento emocionado, referiu que sofre pressões constantes no seu local de trabalho por ser negro, gay e ainda por acreditar numa religião afro-brasileira.

A vitória de Jair Bolsonaro para o cargo de Presidente do Brasil é um momento chave para Tiago Lisboa, que chegou a temer pela sua integridade. O ex-capitão do exército possui um largo histórico de ataques verbais à comunidade LGBT brasileira, tendo declarado que preferia que um filho seu morresse do que se assumisse gay.

"Eu fiquei com medo. Essa é a palavra certa. Mas a Renosp veio e ajudou-me. Ligaram-me e aconselharam-me porque eu estava muito nervoso quando houve o anúncio de que ele (Bolsonaro) tinha vencido. Eu estava de serviço e os colegas da polícia começaram a falar e a comemorar e eu fiquei num canto isolado (...) e escutei algumas coisas que se direcionavam a mim. Se a Renosp não me tivesse ajudado, eu nem conseguiria ter terminado o serviço naquele dia, de tão nervoso que estava", admitiu o jovem profissional à agência Lusa.

No entanto, e apesar das diversidades diárias que atravessa, Tiago garantiu que o seu foco é deixar um lugar melhor para as futuras gerações.

"Apesar de me ter emocionado aqui, eu consigo passar por cima de tudo isso e continuar. Eu vejo que tenho de lutar porque outros virão atrás de mim e essa é a minha maior preocupação. Outros virão e eu quero deixar um lugar melhor para eles", frisou.

Em 2017, 445 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs) foram mortos em crimes motivados por homofobia no Brasil, o maior número registado em 38 anos, e representando ainda um aumento de 30% em relação a 2016, segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB).

Desta forma, o Brasil tornou-se no país onde mais LGBTS são assassinados no mundo.

"Infelizmente, o Brasil é o país do mundo onde ocorre o maior número de assassinatos destes grupos. Isso deixa evidente o quanto o Estado tem falhado na preservação da vida, na forma com que as forças de segurança atuam e na responsabilização pelas vidas perdidas ao longo de anos", declarou Jurema Werneck, diretora executiva da Amnistia Internacional.

MYMM // MIM

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