Muçulmano linchado quando tentava fugir da capital da República Centro-Africana
Porto Canal / Agências
Bangui, 07 fev (Lusa) -- Um homem muçulmano foi hoje linchado por uma multidão em Bangui depois de cair de um camião cheio de pessoas que tentavam abandonar a capital da República Centro-Africana, disseram testemunhas.
O camião em causa integrava uma coluna de camiões e táxis carregados de muçulmanos que deixou hoje Bangui pela saída norte da cidade, sob os insultos da multidão de moradores.
Segundo um fotógrafo da agência France Presse, o corpo desmembrado da vítima estava ainda caído à beira da estrada ao final da manhã.
Um outro camião da coluna foi atacado por milícias cristãs "anti-Balaka", que dispersaram rapidamente após tiros de alerta da força africana, segundo um jornalista da AFP.
Perseguidos e maltratados pela população de maioria cristã da capital centro-africana, os muçulmanos, nacionais e estrangeiros, têm vindo a abandonar Bangui nos últimos meses.
O êxodo aumentou desde que os combatentes da ex-rebelião Séléka, de maioria muçulmana, foram obrigados ao acantonamento ou a partir e aumentaram as ações de represálias contra os civis muçulmanos, assimilados por uma parte da população aos ex-rebeldes responsáveis por abusos contra os cristãos.
Na quarta-feira, perante dezenas de testemunhas, militares lincharam um homem suspeito de estar ligado à antiga coligação rebelde Séléka, no final de uma cerimónia oficial realizada na capital, Bangui, em que a nova chefe de Estado celebrou o renascimento de um exército nacional.
A coligação Séléka, de maioria muçulmana, derrubou em março de 2013 o governo da RCA, país maioritariamente católico, desencadeando uma espiral de violência sectária, que já causou milhares de mortos e centenas de milhares de deslocados.
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) criticou hoje a "extrema violência" que se regista na RCA há quase um ano, sublinhando que atingiu "níveis intoleráveis e sem precedentes".
"Em Bangui, os combates e as pilhagens não param. Apenas em janeiro, a MSF tratou perto de 1.650 feridos devido à violência, das duas comunidades", indicou a organização em comunicado.
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